Opinião – “En garde, Madame Lagarde!”

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Gil Patrão

Gil Patrão

Acaba de ser divulgado o terceiro relatório do FMI após Portugal ter saído do programa de assistência; enquanto a dívida do resgate de 2011 ultrapassar o equivalente a 200% da quota de 1,15 mil milhões de euros que detemos no Fundo, o que só deve terminar em 2021, haverá semestralmente uma monitorização deste credor quanto ao que andamos a fazer no domínio de reformas estruturais, gastos e receitas.

Faz parte das regras e dos contratos. É o que é! E o resumo deste relatório é mais que elucidativo do imbróglio em que estamos (de novo) metidos.

Num tempo em que o governo não tem oposição, por tática que nem todos entendem do líder do PSD, ainda bem que um organismo internacional credível avalia o estado da governação e alerta para os desvios que encontra.

Claro que o FMI não age desinteressadamente quando analisa o estado da economia dos países de que é credor, antes cuida dos interesses de todos os seus associados. É a forma do FMI garantir que receberá o dinheiro emprestado, e de pressionar os governos que se afastem das regras acordadas.

Recordemos que a “troika” se foi embora por mérito do governo anterior e que este, reempossado no lugar após as eleições, foi afastado por quem critica a austeridade imposta e por quem diz que há que reformular as dívidas contraídas.

A linguagem do relatório é perfeita do ponto de vista da diplomacia, pelo que convém ler bem e meditar melhor, para não cair na tentação de desvalorizar o que dizem diretores e diretora-geral do Fundo Monetário Internacional…

Em suma, criticam facilitismos e pedem rigor nas contas públicas, o que muitos de nós sempre pedimos a quem nos governa…

Entendem que o atual governo não deve devolver à função pública os salários na totalidade em tão curto espaço de tempo, o que faz recordar o que diziam, na última campanha eleitoral, quem ainda governava e quem aspirava ser governo…

Lembra-se ainda? E de modo sibilino, dizem que não devemos dar a impressão, a credores e mercados, de que iremos revogar as reformas estruturais então feitas…

Enfim, é um agregado tal de pérolas sobre a nossa economia que governo e extrema-esquerda poderiam ter dito à diretora-geral, “En garde, Madame Lagarde! Em Portugal mandamos nós!” Lembra a máxima de quem altaneiro dizia “Lá em casa mando eu; em mim, manda a minha Senhora…”.

Também quem manda no nosso governo terá de obedecer à senhora diretora-geral, deixar de agir “à Lagardère” e de gastar dinheiro que escasseia e que nem é nosso, face à dimensão brutal das dívidas (pública, de empresas e particulares) que há que pagar, quer se queira quer não queira!

Não há volta a dar, se quisermos permanecer na União Europeia e continuar a poder usufruir de muitos mais empréstimos, vitais para arcar com as dívidas que governos, bancos, empresas e particulares vão contraindo no dia-a-dia. Comunistas, bloquistas e socialistas talvez digam agora o que disse um dia um muito digno secretário-geral: “É a vida!”

Acresce que, e de imediato, a agência de “rating” canadiana DBRS, única que avalia a nossa dívida pública como de investimento, ao contrário das restantes, que a consideram lixo, admitiu poder vir a cortar a notação na avaliação que fará a Portugal em 29 de abril.

Caso se venha a perder esta avaliação positiva, o BCE não poderá continuar a comprar a nossa divida pública, como colateral no financiamento da banca nacional, e em breve estaremos num beco sem saída!

Estamos confrontados com uma realidade de extrema dureza que tem de fazer refletir não só os políticos, mas todos os portugueses. Onde está a solução diferente, prometida por socialistas, bloquistas e comunistas? Foi para acabar assim, que todos nós passámos por tantas provações?

Haverá ou não sentido de Estado, para reformar mentalidades e passar a governar bem Portugal?

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