Opinião – Poblado

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Aires Antunes Diniz

Aires Antunes Diniz

Calhou mais uma vez nesta região do mundo separar-me, pelo alojamento hoteleiro, dos meus habituais companheiros de Congresso, no XII CIHELA (Congresso Ibero-Americano de História da Educação Latino Americana) realizado em Medellín, Colômbia.

Aconteceu há dois anos em Toluca no México. Aconteceu há quase cinco anos em S. Luís de Potosi, também no México. Permite-me este acaso conhecer melhor os países em que vivo escassos dias.

O meu hotel em Medellín é situado na zona rosa da cidade, onde se reúnem cosmopolitamente estrangeiros, que vêm aqui conhecer a América Latina e aprender espanhol. Disse-me a minha amiga colombiana que vive em Belén, outra zona da cidade.

Tive assim ao pequeno-almoço como companheiros alunos e professores de Universidades Americanas. Era também por isso uma zona calma, cheia de glamour nas noites animadas de sábado e com muitas lojas de roupa abertas.

Rapidamente me embrenhei na cidade, procurando descobrir rastos da Teologia da Libertação que aqui foi fundada/iniciada em 1968, mas dela tudo era desconhecido. Apenas havia traços fortes de Pablo Escobar que se apresenta como assombração nos livros que se vendem nas ruas. Foi nestas que encontrei meninos que tocavam guitarra com alegria esperançada em ganhar uns cobres que aqui são submúltiplos de mil pesos. Também aí na Praça Simon Bolivar, anunciada como lugar perigos, apesar do ar enérgico da estátua deste herói latino-americano, encontrei só velhos e degradação humana.

Numa livraria onde encontrei um tratado de ateologia, que não comprei, acabei por encontrar um livro volumoso com um título extenso e elucidativo: Los Economistas neoliberales: Nuevos Criminales de Guerra – El genocídio económico y social del capitalismo contemporáneo de Rénan Veja Cantor.

Irei por isso ser lê-lo com atenção nos próximos tempos.

Fez-me este título recordar Marnoco e Sousa (1) que defendia contra todas as evidências a monarquia em 1901, escrevendo “Surpreende a princípio que um homem duma educação tão prática, como a de Ricardo, se tenha tornado o verdadeiro fundador da economia abstrata”.

Agora, os economistas neoliberais e outros, que são apenas economistas vulgaríssimos, defendem um capitalismo que faliu e arrasta com ele no seu naufrágio, os Povos de Todo o Mundo, numa obscena Globalização da Pobreza. Cria, ainda, paradoxos que acontecem na Colômbia, que apesar de ter o oitavo melhor sistema energético entre 126 países está à beira de um apagão, obrigando-me a escrever este texto com uma luz mortiça, o sinal claro de poupanças inesperadas que aqui se fazem.

Lembro por isso que há pouco mais de trinta anos surgiu a Reaganomics, forma política do neoliberalismo se apresentar, tornando-se a origem da tragédia que vivemos e fazendo de qualquer tragédia individual, que tenha então ocorrido, um mero pormenor.

1 – Marnoco e Souza – Sciencia Economica, França Amado, Coimbra, 1901, pp. 182-183.

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