Opinião – E a política?

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Paulo Júlio

Paulo Júlio

O afastamento e a falta de paciência de todos os que não estão a ela ligados, são galopantes. O sentimento geral ganha o seu expoente máximo quando muitos pensam “que são todos iguais”.

Não são, mas a tendência não é de melhoria. Os partidos fecham-se, tornam-se pouco transparentes e tendem a confinar a discussão a lugares, seja na assembleia da república, seja numa câmara municipal ou numa qualquer nomeação pública. Raramente essas discussões abordam as competências que serão necessárias para melhorar a vida das pessoas.

Desconfio que não é por mal, mas há um sentimento intrínseco de que não há grandes diferenças entre pessoas porque, na realidade, pensam que genericamente são todos iguais e que não há competências exigíveis.

Por essas e por outras, os partidos que deveriam ser a bomba energética deste sistema político, têm as salas vazias, não têm capacidade de gerar discussão , quanto mais massa crítica, promovendo, cada vez mais a mediocridade que resulta de um ciclo vicioso de isolamento.

Assustadoramente , isto é muito pior a nível local do que nos diretórios nacionais. Não se trata algo inevitável, mas depende sobretudo de todos os que possuem responsabilidades políticas e da sua capacidade de juntar mais pessoas com competências, que pensem de forma diferente, e por consequência que não temam que alguém lhes “roube” algum lugar.

Só dessa forma, os partidos políticos se poderão regenerar e voltarão a atrair pessoas para a política. Esse aliás deveria ser um desígnio. O sistema político deveria ter capacidade de atrair os melhores das várias profissões, levando para a prática política, gente com experiência suficiente para administrar e gerir as organizações públicas.

Basicamente todos falam disto, mas não se vislumbram mudanças. Aliás, antes pelo contrário. As jogadas, as táticas de poder e o caciquismo esvaziam qualquer discussão de substância. Como mudar ? Quatro ideias. Primeiro, a lista da assembleia da república deveria ter círculos uninominais, permitindo que as pessoas escolham os seus deputados ao invés , como hoje se passa, de lhes ser imposta uma lista ordenada por factores pouco transparentes e onde nem sempre o mérito impera.

Segundo, deveria haver uma limitação de mandatos também na Assembleia da República, como já há para as câmaras municipais, promovendo assim a renovação dos actores políticos. Terceiro, aprovar uma nova legislação para as autarquias que permitisse que parte dos vereadores e dos representantes da assembleia municipal pudesse ser escolhida fora das listas, como, desde sempre se passou com os governos centrais. Essa mudança permitiria ter outras competências , complementaridade de saberes e menos sujeição ao aparelhismo.

Quarto, os partidos deveriam promover primárias na escolha dos seus líderes distritais, abrindo o universo de votantes, bem como enquadrar estatutariamente a figura de simpatizante. É essencial que a política ganhe preponderância e que os políticos sejam valorizados pela sociedade. Essa necessidade, por sua vez, só será satisfeita, fazendo mudanças radicais no modo como as organizações políticas actuam.

Estamos no século XXI, passamos por uma revolução tecnológica ao nível dos meios de comunicação, os cidadãos acedem e selecionam a informação em tempo real. Os partidos políticos não podem deixar de perceber isso ou haverá tendencialmente mais isolamento, com a consequente perda de credibilidade. Ontem, já era tarde para começar a mudar.

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