Opinião – Coimbra aos “doutores”

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Gil Patrão

Gil Patrão

Coimbra, que já foi a terceira cidade do país, cedo desceu no ranking urbano.

Dizem que a culpa é dos “coimbrinhas”, mas a degradação da urbe tem causas mais profundas. Coimbra começou a parar no tempo da modernidade por vontade do antigo regime, que temia que o proletariado influenciasse quem o Estado preparava para dirigir e administrar o país, por haver a consciência que unir “intelligentsia” à força de trabalho do povo destruiria num ápice uma ditadura caduca.

Por Coimbra passaram Zeca e Adriano, que cantaram o quanto ansiavam por ampla liberdade de ser e de viver, que encantaram tantos e a muitos ainda agora motivam.

Coimbra, que era então terra de fraternidade, emoções sem fim e de exaltação de ideais que floriram em Abril, acabou por se tornar amarga desilusão num tempo em que Coimbra perdeu encantamento, sabe-se lá por que razão, já que a juventude continuou a florescer nesta terra de que se diz ter encantos mil.

Entre Porto e Lisboa, Coimbra afunda-se na pouca profundeza dum Mondego que cada vez mais é bazófias. Terra que formou primeiros-ministros e que deu governantes ao reino e à república, Coimbra atrasou-se, por não querer acompanhar o progresso.

Coimbra prefere esperar sempre os favores de quem governa, como sempre esperou a esmola de quem reinou. Se Coimbra não se afirma pela capacidade empresarial, é porque vem entregando o poder a quem não vê que o tempo de ensinar de cátedra há muito que passou e que o que importa é fazer acontecer o futuro.

Com a revolução, a descolonização e a integração na União Europeia, o país desabrochou e as cidades vêm progredindo pelo labor dos habitantes e pela esclarecida gestão urbana dos líderes. Mas Coimbra foi (e vai) ficando para trás pela sobranceria dalguns autarcas, lídimos militantes de estruturas políticas locais amorfas, que tanto desconsideram as indústrias que desincentivam empresários que aqui queiram fixar empresas. Coimbra é hoje terra de inconcebível marasmo, em que imperam normas que dificultam quem cá quiser estabelecer seja que negócio for, o que leva empresários a rumarem a Águeda, Leiria, Aveiro, Cantanhede e a outros lugares da região.

Em Coimbra, a escassez de indústrias é frustrante para quem busca trabalho. Embora hoje, como ontem, haja em Coimbra empresas de sucesso e reconhecidas no globo, que Coimbra nem valoriza, por muito que haja gentes que, de Coimbra, tanto as projetam no mundo. E que hoje, como sempre, haja empresários industriais que, indo à Câmara para saber o que fazer para se fixarem na urbe, e o que devem esperar da autarquia, recebam dalguns autarcas e funcionários o “apoio” de solenes e galhardas dificuldades.

Ou não continue Coimbra a ser terra de “doutores”!

Coimbra precisa de doses industriais de humildade e de imensas lições de modernidade. Se as forças vivas da cidade seguissem o que o professor de gestão David Morand há muito ensina na School of Business Administration, na Penn State Harrisburg, nos Estados Unidos da América, de que banir o “doutor”, e até o “senhor”, desenvolve relações de trabalho mais espontâneas – o que ajuda a desburocratizar organizações – talvez o povo de Coimbra se motivasse para acelerar o passo e recuperar de algum do atraso em que Coimbra já nem vive…, mas apenas sobrevive.

Coimbra, terra de tantos encantos, tem notáveis Faculdades, como Medicina, Farmácia, Direito e outras, as ativas Coimbra Business School e Incubadora Pedro Nunes, que contribuem para o devir coletivo, e tem perto de si o exemplar Biocant Park, assim como tem unidades de saúde excelentes e centros de investigação modelares, que não há muitas urbes no mundo que tenham.

Mas carece duma liderança capaz e audaz, para tirar partido do muito de bom que Coimbra tem!

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