Opinião – António Arnaut: Glória ao menino da Cumieira!

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Casimiro Simões

Casimiro Simões

Um português genialmente comprometido com a Pátria, António Arnaut, regressa dentro de algumas horas a Penela, concelho onde nasceu faz hoje precisamente 80 anos. Numa homenagem presidida pelo ministro da Cultura, João Soares, o seu nome será atribuído à Biblioteca Municipal.

A Câmara de Penela distingue o principal impulsionador do Serviço Nacional de Saúde, essa página dourada da história contemporânea de Portugal, avanço civilizacional na Europa do século XX, que, apesar de sucessivos ataques desde o início, em 1979, sobreviveu nestes 36 anos como conquista inabalável da revolução democrática do 25 de Abril.

Durante a ditadura, na Cumieira natal, o pequeno António conheceu vizinhos que “comiam o pão duro dos dias sem sol, viviam à míngua e morriam, em regra, sem assistência médica”, o que fez de si “um cidadão comprometido com o povo e a Pátria”, como afirmou há dois anos, ao ser agraciado pela Universidade de Coimbra com o grau de doutor honoris causa.

A autarquia liderada por Luís Matias, do PSD, exalta a obra pública do humanista resistente e singular dos nossos dias, que liderou a Comissão Administrativa do município, após a Revolução dos Cravos.

Mas António Duarte Arnaut é reconhecido sobretudo pela produção literária, que reúne mais de 30 livros, particularidade que não deixa de tocar o autor no plano emotivo.

“A primeira coisa que fiz na vida foi escrever poesia e hei de morrer como escritor. A vida política não me permitiu publicar mais”, lamentou, em 2007, numa entrevista que me concedeu, enquanto jornalista da Agência Lusa, a propósito da edição do romance Rio de Sombras.

Vendo bem, o advogado e escritor, um dos fundadores do PS e seu militante número 4, nunca abandonou o rincão nativo, apesar de residir há mais de 60 anos em Coimbra, onde se licenciou em Direito, em 1959.

Ainda a brincar na aldeia, ouviu pela primeira vez alguém gritar “Viva a República!”, sempre que a celebração do 5 de Outubro, tolerada por Salazar, esboçava ano após ano no horizonte a tímida fresta da liberdade adiada.

Despertou aos poucos para a política e a intervenção cívica que, entre tantos e diversos cargos, o fez eleger deputado à Assembleia Constituinte, em 1975.

Continuou como parlamentar na Assembleia da República e foi ministro do segundo Governo de Mário Soares, com a pasta dos Assuntos Sociais.

Já neste século, exerceu um mandato de três anos como grão-mestre do Grande Oriente Lusitano – Maçonaria Portuguesa. Cristão agnóstico, socialista e republicano, abandonou a política ativa há mais de 30 anos.

Regressou então à advocacia, que sempre serviu com eloquente brilho, e à criação literária, faceta que justamente e por maioria de razão vai perpetuar o seu nome na biblioteca pública de Penela.

António Arnaut apaixonou-se pela literatura muito jovem, quando o avô materno, António Freire “Moço”, um “excelente contador de histórias”, lhe incutiu o gosto pelos clássicos portugueses.

Como um pássaro de fogo, veloz e livre, o poeta cruzará hoje os ares de Penela, rentinho aos telhados das casas e às ameias do castelo. Glória ao menino da Cumieira!

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