Opinião – Será possível?

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Norberto Canha

Norberto Canha

Não só é possível como é verdade:

– Foram homenageados pela Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, no Dia Mundial do Médico de Família, em sessão ocorrida no Teatro de Gil Vicente, o Médico de Família. Sessão a que assisti e de grande qualidade. Parabéns aos da iniciativa e organizadores.

Como símbolos da prática que se deseja, Prestou-se homenagem: a Adolfo Rocha (Otorrino) ou o escritor Miguel Torga.

A Fernando Vale, clínico geral (João Semana ou médico todo o terreno) e político. Foram felizes na escolha e, eu que com eles tive alguma convivência, considero oportuno relatar o que recordo: um dia Miguel Torga, ou melhor, Adolfo Rocha, surgiu inesperadamente no consultório. Situado na Rua Alexandre Herculano, entra no de Franklim de Figueiredo (citologista de grande qualidade) exaltado e desabafou: “Cortei relações com a minha filha; não a quero ver mais”! O dr. Franklim, moderador, oh sr. doutor já pensou que o último ramo de flores que terá na sua campa vai ser posto pela sua filha”?

Saiu menos exaltado. No dia seguinte Miguel Torga surge alegre: “Já fiz as pazes com a minha filha”. E a sorrir.

Convivi com Miguel Torga como escritor e, como médico, como meu doente. Enquanto internado no IPO ia vê-lo com alguma frequência.

Em carta ocasião, após conversa mais prolongada, ocorreu-me perguntar-lhe se aceitaria ser doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra proposto pela Universidade de Coimbra dado que entendia que não fora ter sido medico e aldeão, não teria sido o escritor que foi. Aceitou! Faço a proposta ao Conselho Científico da Faculdade de Medicina que, por unanimidade, aprovou. Foi encarregado o vice presidente desse conselho, o professor Adelino Marques, de lhe transmitir a notícia. Recusou com um não peremptório!

Conhecedor dessa posição dirigi-me a Miguel Torga e a sua resposta foi “Fica para depois”! Eu sabia que não haveria um “depois’” dado o seu estado de saúde:” Ora-se, nessa ocasião, uma cópia não assinada, do discurso que sua esposa ia fazer por Ele no Encontro de Intelectuais Europeus em Lisboa. Quanto ao Prémio Nobel, que julgava e julgo ter sido merecedor dessa distinção. Mostrou -me literatura em francês, em que era essa a pretensão dos seus admiradores. “Não me fui atribuída porque o Partido Comunista se expos”!

Hoje interrogo, não terá sido por causa semelhante que não terá sido atribuída a outro grande escritor da Língua Portuguesa Jorge Amado?!

– Fernando Vale. Ao ter utilizado, para o caracterizar como médico, o termo João Semana e médico todo o terreno foi para o exaltar como médico no tempo em que com quase nada se fazia muita coisa e, agora, dada a burocratização da medicina com muita coisa se faz um quase nada!

Fui com Fernando Vale, uma sua filha, assistente social e o neurocirurgião Rui Lemos, convidados pelo Governo de Macau, por empenho de Fernando Vale, cirurgião, seu filho, e meu particular amigo, aquando das Bodas de Prata, as corridas de automóveis de Fórmula 2 para que em caso de qualquer acidente não houvesse necessidade do sinistrado ser evacuado para Hong Kong. Fernando Vale, cirurgião, era responsável pela cirurgia em Macau.

Nessa viagem, como saudosistas que somos passámos por Gôa. Aqui visitámos o Palácio de Hidalção, sede do Governo, conservado primorosamente e respeitando as mem6rias do passado. Fomos à Igreja de S. Francisco Xavier ver as relíquias do Santo, manifestámos ao sacerdote a nossa estranheza de já se falar pouco o português. “Não acreditem nos indianos, são uns fingidos; o português era obrigatório mas davam a todos 18 valores e ninguém o aprendeu”. Foi nosso convidado para o almoço.

Aceitou! Durante o almoço tocou-se música portuguesa, quem orientava “manda-nos mais discos para a poder tocar. Estes são os únicos que temos”.

Em Bombaim a presença portuguesa é assinalável: nos hotéis, repartições e associações.

Os nomes de quem nos atendia e expostos, eram portugueses.

Pernoitando em Nova Deli, fomos visitar o Tajmaal, aqui almoçámos num hotel e quem nos servia perguntou: “São portugueses?”. – “Somos”.

– “O chefe da orquestra também é português”. Convidámo-Io para vir almoçar connosco, já falava mal o português. Era natural de Gôa e português estava naquele hotel há 20 anos.

Recordo quando fui, no Gonçalvismo, ao Japão, no regresso, em avião da Air Índia, surpreendido com o aprumo de um dos tripulantes pergunta-se a uma hospedeira: “Aquele senhor é de Gôa?”. Logo Ele: “São portugueses? Também sou!”. Convidou-nos para um jantar e goeses em Hong Kong, eram mais de 20. Orgulhavam-se de ser portugueses. Ele, acrescentou: “Nós não queríamos a independência, queríamos apenas um estatuto igual ao da Madeira ou dos Acores; tenho o passaporte português. Não que nós estejamos mal na União Indiana: Temos uma civilização mais avançada”.

Procedia-se a evacuação dos refugiados do Vietname. Íamos com Fernando Vale – ele que foi fundador do Partido Socialistas a entrar no Real Senado, vem a sair apressado o António Macedo.

António Macedo: “Tende cuidado com Mário Soares. Ele é vingativo”.

Fernando Vale: “Conheço-o bem!”.

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