Porque decide abraçar este desafio?
Ora bem… este foi, quando muito, um desafio que fiz a mim próprio. Estava muito descontente com a política portuguesa, com o monopólio férreo que os partidos têm sobre a atividade política impedindo os cidadãos de participarem. Como bastonário, fiz o diagnóstico e quase todas as denúncias que achei por bem fazer e as coisas não mudam.
Em Portugal perdeu-se o sentido da responsabilidade, o sentido de Estado, alguns políticos perderam, até, a vergonha. Achei que era altura de intervir politicamente para tentar agitar as águas. Mas confesso que há um facto da minha vida familiar que também foi determinante. O facto da minha filha ter emigrado pelas mesmas razões que os meus pais o fizeram há 63 anos. Algo está errado.
Mas a sua voz vai ouvir-se em Bruxelas. Espera ter reflexos em Portugal?
Sem dúvida. A minha voz vai ouvir-se sobretudo cá dentro, pois espero que cheguem cá os ecos. Não defendo nada para a Europa que não defenda para Portugal e não defendo nada para Portugal que não queira para a Europa.
Somos parte dum projeto de construção de uma união a nível da Europa, um sonho grandioso concebido por pessoas geniais e visionárias. Sou europeísta, defendo mais integração e mais coesão interna entre os povos e entre os Estados.
E mais alargamento?
Quanto a isso, penso que houve precipitações, nomeadamente em alargamentos que foram motivados por razões de política geoestratégica mais do que por necessidades dos povos. A União Europeia tem vindo a procurar capturar novos países para a sua órbitra com instintos, quase diria, imperialistas, muito perigosos.
Por exemplo, o que se passa na Ucrânia é perigosíssimo, há um urso adormecido, que é a Rússia, e que pode reagir a qualquer momento. Tem que haver seriedade na política e nas relações com a Rússia e o que a UE tem estado a fazer é perigoso. As pulsões nacionalistas conduzem sempre a aventuras nacionalistas e estão na origem das duas guerras mundiais. E, ou a Europa compreende a História e tira as lições que se devem tirar ou então vamos cometer os mesmos erros. E os nacionalismos já estão aí a espreitar.
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