Li, no Diário As Beiras, um artigo do Sr. Presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Coimbra, António Simões, no Dia Mundial da Floresta. Tenho a dizer que concordo na generalidade com ele, mas com alguns acrescentos, que justificarei, pelas seguintes razões:
– A primeira recordação que tenho da minha aldeia e infância foi um incêndio no palheiro do meio, de três palheiros, repletos de palha e feno – da minha avó. Acordo ao toque a rebate dos sinos da igreja; esta ficava próxima dos palheiros. Vejo-me na varanda a olhar para o incêndio, dois homens com dois machados na mão, em paredes opostas, a tentar cortar as traves; um cordão humano constituído por homens, mulheres, alguns mais velhos que eu, com cântaros e remeias de água, num vai e vem contínuo, da fonte até ao incêndio. Os homens nas paredes a recebê-los e a despejá-los, o incêndio a abrandar e depois a apagar-se.
– A segunda recordação passou-se também na minha aldeia e ocorreu na Serra de Bornes. Eclodiu um incêndio na base de uma propriedade. O dono estava lá, assiste à subida do fogo e ouvi dizer: se estivesse lá mais uma pessoa, tinha-o apagado.
Vêm os bombeiros, tempos depois, e não poderiam vir mais rapidamente, da vila até ao local do incêndio. Ouvi apenas os intercomunicadores dizer: daqui fala Alfa 1, daqui Alfa 2; como vai o incêndio? E nem bombeiros e população fizeram nada para o apagar. Não havia vento e foi a estrada, asfaltada, que ia de Sambade e atravessava transversalmente a serra, que o apagou. Quando lá passo olho para um sobreiro que já ardeu várias vezes, mas resiste.
– A terceira recordação ocorreu em Sendim da Serra, e na serra, em que arderam propriedades minhas, floresta de pinheiros e sobreiros. Tudo leva a crer que foi fogo posto, pelos sinais deixados.
Deflagra o incêndio, telefona-se para os bombeiros, estes prontamente acorrem. Surge um helicóptero no ar, com balde suspenso, anda de um lado para o outro à procura de água. Vai buscá-la à barragem da Estevainha, a quase 10 quilómetros de distância. Eu tinha uma charca próxima, mas não se informaram, nem a viram. Despejam meia dúzia de baldes, acaba-se o combustível, e é noite. O incêndio prosseguiu orientado pelo vento e bombeiros, até que se apagou. Os pinheiros apodreceram na floresta – quem se propôs comprá-los, era tão baixo o preço, que lá ficaram. Que fosse pelo menos para enriquecer a terra; os sobreiros até parece que rejuvenesceram, mas a cortiça perdeu muito da sua validade.
– Assisti a outro incêndio nessa serra, em pleno calor abrasador do Verão. Os bombeiros muito fizeram, mas as folhas dos sobreiros a arder atravessaram a estrada asfaltada e foram incendiar as folhas dos sobreiros do lado oposto e as ervas onde poisaram. Estava vento!
– Ia para a minha terra e ao descer em estradas aos “S”, após a recta de Marialva; vejo um carro a incendiar a borda da mata direita da estrada. Já tinha proporções o incêndio; acelerei o carro a ver se via a matrícula, e eles, ou guiavam melhor que eu ou iam assustados… nada. Não foram apanhados!
Se eu tivesse poder deciditório, que faria?
1.º – A justiça tem que ser mais acelerada e implacável para com os incendiários e mandantes, se os houver. Se a lei o não permite, senhores políticos, legislem para alterar a lei.
2.º – Os sábios, em que se incluem os políticos, falam na Lei das Sesmarias; na obrigatoriedade de limpar as florestas, mas nem o Estado limpa as suas. Esquecem que sem agricultura não há limpeza, por não haver meios, e sem revisão das normas comunitárias, não pode haver agricultura. Eu criei a melhor agricultura do meu concelho e tudo feito à custa do meu labor. Ainda tenho um rebanho de cerca de 200 ovelhas. Tudo é meu e não dá para pagar ao pastor!
3.º – Repensar a floresta e o tipo de árvores a utilizar, dar a prioridade às que, mesmo que ardam, voltam à vida.
4.º – Creio que não serão necessários mais bombeiros e mais meios. Preciso é que, como no tempo em que era criança, acorra toda a população, e como esqueceram a forma de actuar, que sejam os bombeiros a ensiná-los como actuar em parceria.
5.º – Haja rebanhos de animais de pequeno e médio porte, como cabras e ovelhas, para ajudar a limpar as matas; mas que dêem algum lucro a que os tem, e não apenas o estrume para enriquecer a terra.
Síntese:
– Hoje teriam ardido todos os palheiros e até a igreja, porque os senhores engenheiros e município puseram água canalizada, mas destruíram a fonte, e não há onde ir buscar água.
– No incêndio da ACM em Coimbra foi dado o alarme atempadamente, por um transeunte; os bombeiros chegaram a tempo, só que as bocas-de-incêndio não deitavam água.