Opinião – Uma meta para o Governo, já

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FRANCISCO QUEIROS novoFrancisco Queirós

“Se soubésseis o que custa governar, gostaríeis de servir toda a vida”, terá dito o velho ditador. Salazar, segundo o mito que cultivou, abdicou de todo o bem-estar, vivendo estoicamente a bem da Nação, transportando ao longo de décadas o fardo do serviço público.

Pouco importava os “sopapos” dados a tempo nos opositores, eufemismo para a repressão feroz que durante décadas se abateu sobre milhares de democratas, comunistas e outros. Muitos dos quais assassinados ou condenados e submetidos a penas e torturas cruéis.

Pouco importava a fome, a miséria, a emigração, a condenação à incultura, e se possível à estupidez, generalizada a um povo pobre. Pouco importava a guerra, os mortos de África, uns brancos, outros negros. Pouco importava que Portugal fosse o mais cinzento, triste e miserável dos países da Europa. Orgulhosamente sós, tínhamos um santo chefe.

40 anos depois daquela madrugada inteira e limpa que restituiu Portugal ao povo, há quem trate o povo com a mesma sobranceria, com o mesmo paternalismo ou padrastismo, palavra que se não existe, se invente! Não que se comparem regimes e momentos. O terror do fascismo em Portugal não é comparável com outros momentos extremamente penosos como os que vivemos. Mas lá que por vezes alguns dos actuais responsáveis da maioria nos fazem recordar os velhos tempos, lá isso fazem. Como fizeram os mais jovenzinhos dos congressistas, esses meninos lavadinhos que conhecem a pobreza por ver na televisão ou por esporadicamente terem praticado alguma caridezinha de hipermercado, de imediato apoiados por diversos membros do governo, propondo a diminuição da escolaridade obrigatória para o 9.º ano. Como nos faz recordar uma das primeiras medidas de Salazar. A redução da escolaridade obrigatória da 4.ª para a 3.ª classe. Afinal, o saber e a cultura são descartáveis, um luxo. E um povo mais culto pode ser um empecilho!

Só ele sabia o que custava governar. Sacrifícios de vária ordem. E então suportar as incompreensões desses filhos insatisfeitos e revoltados, tanto mais doloroso quanto moralmente estes seriam, na sua lógica, devedores de uma gratidão imensa e fidelíssima. O povo, oh! o povo, esse ingrato… Que por vezes mesmo se atreve a agir qual cão que não conhece o dono, qual criado que não venera o patrão, e cospe na sopa que cristãmente lhe é oferecida…

Como é difícil governar e como é difícil perceber que o povo não os ama. Um pai pobre que se vê obrigado e aos seus filhos à miséria, não deixa de ter o afecto dos seus filhos. Como então explicar que os actuais governantes sejam alvo da indignação e mesmo de actos de desrespeito e até ódio pelo seu povo? Será por roubarem esse povo, o maltratarem a todo o momento?

O episódio anedótico ocorrido com congressistas de um dos partidos da maioria Coelho /Portas num restaurante da Bairrada rapidamente se tornou conhecido em todo o país. Vale simbolicamente no anedotário deste governo.

Há por aí um povo inteiro, desempregados, pensionistas, empregados e pequenos empresários, idosos e jovens obrigados a emigrar, cansados deste governo. Afinal, a meta pode ser já aí mais à frente. Não a da vitória, infelizmente. Antes a do termo das malfeitorias. Se soubésseis o quanto custa viver em Portugal hoje, teríeis vergonha. O pior é que eles sabem. Sabem e insistem.

 

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