Opinião – Reorganização ou má gestão territorial?

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AIRES ANTUNES DINISAires Antunes Diniz

Dentro de poucos dias vamos assistir a umas eleições sui generis, pois se juntaram freguesias sem que se tivesse discutido as razões porque o devíamos fazer. Apenas fomos empurrados à sua junção pela força e inteligência precária de um governo que se esboroa. Um dos argumentos para esta junção foi a perda continuada de população das freguesias, mas ninguém quis ver porque tal aconteceu.

Alguns falam agora de despovoamento como ameaça, mas este é apenas o resultado da falta de emprego e da falta de viabilidade económica das empresas e explorações agrícolas destas freguesias. Nada se estudou nem ninguém foi chamado a pronunciar-se com a ciência possível sobre o assunto. Tudo aconteceu ao contrário de há mais de 80 anos quando se escreveu que “A conferência – melhor diríamos «a lição» – realizada no Centro Comercial, teve flagrante atualidade. Beira – Douro lídima Região Portuguesa e Autarquia futura foi o tema tratado” pelo “engenheiro Pina Manique e Albuquerque, professor ilustre da Universidade de Coimbra” .

Teria sido útil que a discussão fundamentada tivesse acontecido, pois as aldeias embora tenham casas para vender não há compradores para elas. O mesmo acontece nas cidades, onde encontramos lojas vazias por falta de quem acredite que é possível vender na quantidade suficiente para as rentabilizar. Também ninguém analisou o que vai acontecer às cidades e aldeias se tudo se mantiver. Também não se espera que na campanha eleitoral se venha discutir a decrepitude das cidades e muito menos as das aldeias. Contudo, seria prudente fazê-lo.

De facto, a bancarrota recente da cidade de Detroit mostra como o despovoamento das cidades e, claro também, das aldeias torna-as umas e outras inviáveis quando os impostos recolhidos não permitem manter os serviços públicos.

Na verdade, muitas das nossas cidades e vilas perdem população e as casas são abandonadas e muitas ficam sem ninguém que as assuma como suas e pague os impostos devidos. E pelo que vejo nos meus passeios tal situação parece ser cada vez mais provável. Entretanto, tal como aconteceu na discussão da extinção das freguesias nada se equacionou que permita saber porque a população se foi embora. Fica-se pela sua mera constatação. Ninguém recorda que os governos lhes indicaram a porta da emigração. Ninguém parece capaz de dizer como a má gestão das cidades, aumentando muitas vezes o seu endividamento com as empresas locais, complicou tudo ao fazer investimentos sem retorno em manutenção de empregos, criação de riqueza e consequente aumento de impostos sobre o rendimento.

Só aumentou a probabilidades de acontecer a sua plausível bancarrota. E, alguém deve dizê-lo antes que seja tarde….

1 – Voz de Lamego, Ano X, n. 477, 13 de Dezembro de 1939, p. 4, colunas 1 a 3.

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