Opinião – Crónica sobre uma desunião de freguesias

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José Dias Carreiro

Embora não tivesse ficado surpreendido, por conhecer a actuação dos políticos, confesso que fiquei profundamente chocado e até irritado pela forma aligeirada como tomam determinadas decisões que afectam não só o quotidiano das populações, como até a sua própria alma.

Foi o caso ocorrido com a povoação donde sou natural, vila de Salvaterra do Extremo – concelho de Idanha-a-Nova, que será agregada., mas não unida, à freguesia de Monfortinho, que há cerca de 40 anos estava integrada na freguesia de Salvaterra, existindo, possivelmente, outros casos semelhantes por esse pais fora. Isto revela não só um profundo desconhecimento, como uma evidente ignorância do nosso território. Por isso existe uma certa unanimidade nas críticas feitas ao trabalho da UTRAT, que não abona nada a seu favor.

Sempre se pensou que as freguesias rurais do interior manteriam a sua independência, sendo que esta estruturação afectaria sobretudo as freguesias urbanas, onde nos parece haver lógica.

Também não são bem conhecidos os critérios que orientaram a tomada desta decisão, nem os parâmetros que lhe serviram de base: Permitam-me que especule sobre os cenários possíveis :

1 – numérico – o mais fácil , o mais simples e o menos trabalhoso, mas também o que dá origem a maiores desvios da realidade. Mencionam-se 170 eleitores, e não os 184 que resultam do último censo, 2011, numa população de 210 habitantes. Não foram incluídos neste número desde crianças de 5 meses até jovens de 17 anos, porque aos políticos só interessam os eleitores. Entretanto a população jovem aumentou, atraída pela agricultura, descoberta efectuada por este último governo, pois os últimos tentaram e conseguiram destrui-la.

Na realidade o critério numérico não foi aplicado, pois, segundo um amigo meu natural da freguesia de Samodães, que só tem 102 eleitores e que manteve a sua independência e só as duas freguesias urbanas de Lamego foram objecto dessa união. Porquê ?

2 -territorial e urbano, sendo que Salvatera é aproximadamente o dobro de Monfortinho. O caso flagrante de Toulões, um terço de Salvaterra, com quem confina, conseguiu a sua unidade, e bem, embora muitos dos seus eleitores não sejam residentes.

3 – proximidade – a este respeito há uma nítida falta de censo, pois que nem sequer consideraram os 25 kms. que separam Salvaterra daquela que possivelmente virá a ser sede da nova Junta. Como estamos habituados a que em Portugal se faça tudo de cima para baixo, ignoraram, que, na prática, não existem transportes públicos que possam servir uma população maioritariamente idosa..O autocarro vindo de Castelo Branco passa em Salvaterra às 19 horas, pernoitando em Monfortinho, donde parte no dia seguinte às 7 horas da manhã, Facilmente se conclui que alguém de Salvaterra que queira tratar de algum assunto respeitante à Junta terá que passar duas noites e custear as despesa de almoço e jantar. Claro que alguém poderá comentar de uma forma muito simplista “que vão de táxi”….

4 – histórico – é das povoações mais antigas da Beira Baixa, tendo sido constituída praça forte com direito a governador militar, existindo ainda ruínas que atestam a sua importância, como baluarte de defesa contra as invasões de Castela. Por isso teve direito a foral concedido por D. Ssncho II em 1229 e à isenção de impostos e taxas determinadas por D.Diniz.

Foi sede de concelho até 1855, tendo sido posteriormente integrada no concelho de Idanha-a-Nova, mantendo ainda o edifício da câmara, actualmente sede da Junta, assim como o bem conservado pelourinho manuelino e as igrejas matriz e a da misericórdia, considerados de utilidade pública. Claro que tudo isto não teria sido importante para a UTRAT, mas este curriculum é um precioso legado, que é orgulho da sua população.

Se foi o critério contabilíistico que prevaleceu nesta decisão, queria deixar bem claro que a Junta de Salvatera funciona em “part time”, onerando pouco o erário público, constituindo praticamente o único apoio aos seus habitantes..

O povo de Salvatera do Extremo, que só por ironia assim é designada, porque, afinal, é aqui que Portugal começa, e não como a palavra “extremo” pode erradamente induzir, está indignado e revoltado com esta desunião, como, aliás, muitas outras regiões do país, sendo sua intenção abster-se nos próximos actos eleitorais. Espera-se que o Tribunal Administrativo possa corrigir o erro da UTRAT, dando provimento à providência cautelar.

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