Opinião: “Os flutuadores”

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O Parlamento está cheio de gente e alguma de que gosto muito. Tenho esse privilégio de conhecer bastantes pessoas, algumas que por lá ganharam lugar, embora não possa afirmar de todos que são amigos, nem ter essa falta de rigor linguístico. Amigo de Facebook é uma coisa, amigo de nos sentarmos a trocar conversas, a entabular umas discussões é outra. Vivência e convívio também não são amizade. Essa coisa da amizade não é recíproca porque sim, posso adorar quem não me quer e posso ser a primeira bolacha de quem não gosto nada. Vem isto a propósito de que conheci muitos funcionários da política, muitos que subiram à custa do partido e construíram uma vida inteira de favores e de pedidos de emprego. Os que subiram mais alto estavam entre os brilhantes e os líderes, sempre de modo visível e sem levantar onda. Houve três exemplares que se notabilizaram mais que os outros, os lambe cus, os calados e os genufletidos. Eles estavam nas fotos dos chefes, eles ambicionavam sentar-se perto, repetiam as palavras do mestre, tinham a eloquência do gravador, do podcast. Gente capaz de todas as cumplicidades. Os chefes em Portugal gostavam muito destes três géneros e forçosamente obstruíam o caminho de opositores, de opinativos, de gente mais afoita, com iniciativa, com discurso próprio. Tal como na água flutua a esferovite, a rolha e o coco, estes exemplares sobem e flutuam usando esta ferramenta exemplar. O lambe cus nunca falha a sua ascensão… é como aquele macaco que o líder protege e assim garante o lugar no clã. Já o calado demora algum tempo, mas de tanto estar perto fica visível, estranha-se a sua ausência e a garantia que dá permite a ascensão. O genufletido é um exemplar educado, persistente, cumpridor, acenando com a cabeça, aplaudindo de modo audível. Esta gente encheu o Parlamento, as direções de repartições públicas, a liderança de empresas, a administração pública e por isso odeiam reformas, detestam mudanças, carregam os seus filhos e seus apaniguados que levam de mão dada em busca do Sol. Um Sol emprego, um lugar onde o trabalho é pouco e o salário é razoável. Estes flutuadores estão a destruir Portugal e são imparáveis.

Pode ler a opinião de Diogo Cabrita na edição impressa e digital do DIÁRIO AS BEIRAS

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