“Acho muito bem que os jovens portugueses emigrem”

Spread the love

 

A história dos emigrantes portugueses escreve- se com sangue, suor e lágrimas. A nova geração, porém, na sua maioria altamente qualificada, parte com emprego garantido e bem remunerado. Pedro Ribeiro Cura, 63 anos, foi para New Bedford em 1974, cidade onde cerca de 80 por cento da população é portuguesa ou luso-descendente. “Embarcou” numa vaga de emigração de pescadores oriundos da freguesia de S. Pedro, Figueira da Foz. Inicialmente, trabalhou na indústria têxtil, mas rapidamente se mudou para as pescas.

Naquela cidade do estado de Massachusetts, Pedro Cura é um dos armadores portugueses, detendo sociedade em duas embarcações de pesca. Os cinco empregados são portugueses, três dos quais figueirenses – dois de S. Pedro e um de Tavarede. Antes de partir à conquista do sonho americano, o natural de S. Pedro cumpriu serviço militar em Angola, na guerra do ultramar, durante 26 meses. Antes disso, porém, concluiu o curso industrial. Hoje, a sua prole já vai na terceira geração de emigrantes. Ou melhor, os netos já nasceram americanos. E os filhos preferem a terra firme. “Não conheço ninguém de S. Pedro emigrado em New Bedford cujos filhos se dediquem à pesca”, afirma. Mas há coisas que nunca mudam: “sinto a falta do oxigénio da minha terra e do iodo deste mar”. É por isso, e para conviver com os poucos familiares que vivem na sua terra natal e com amigos, que Pedro Cura vem a Portugal duas vezes por ano.

 Mercado da saudade

“Enquanto puder, vou continuar a vir duas vezes por ano, uma a seguir ao Natal e outra no verão”, assevera o emigrante figueirense, que nos recebeu na sua casa, em S. Pedro. Ressalva, no entanto, que “está fora de causa regressar de vez”. Porquê? “Gosto muito desta terra, mas também gosto muito dos Estados Unidos, onde tenho a minha família, que também não que voltar”. A resposta é elucidativa. De resto, “vive” Portugal todos os dias naquela cidade costeira norte-americana, que tem o maior porto de pesca da união.

Em New Bedford, “até a água que a tripulação bebe é portuguesa”, pormenoriza Pedro Cura. Aliás, só a carne, o peixe e outros produtos perecíveis são “Made In USA (Fabricado nos Estados Unidos)”. “Até o pão que consumimos é feito numa padaria portuguesa”, realça. A música e as notícias também são portuguesas – existe uma rádio que emite em português. Na América, convive, sobretudo com portugueses e americanos. De resto, ser lusitano naquela parte do mundo, assim como noutras, é sinónimo de prestígio, pela sua força e capacidade de trabalho.

Património genético

“Quando os portugueses chegam ao aeroporto do país para onde emigraram, apetece-lhes logo trabalhar”, ilustra Pedro Cura. Esse é o passaporte que abre as portas da integração, do respeito e da admiração à diáspora lusitana. A nova geração de emigrantes tem portanto a vida mais facilitada, fruto do trabalho dos seus antecessores e, também, da formação académica que levam na bagagem. Pedro Cura não encontra drama na sugestão de alguns governantes portugueses que apontam o caminho da emigração como forma de encontrarem lá fora o que não têm cá dentro – emprego. “Estou plenamente de acordo que os jovens portugueses devem emigrar, para enriquecerem os seus conhecimentos e porque a situação económica em Portugal não vai melhorar tão cedo”, argumenta o emigrante da Figueira da Foz. A seu favor está a capacidade de adaptação dos portugueses, realça. Por outro lado, se forem para os Estados Unidos, frisa Pedro Cura, encontrarão uma sociedade “mais humana, onde não há diferenças no trato entre classes sociais, profissionais ou económicas”.

Jot’ Alves

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.