Fio de Prumo: Águas para que vos quero

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Luís Parreirão

A última semana foi pródiga em notícias que sendo individualmente preocupantes, ainda o são mais se olhadas em conjunto.

De relatórios ilegítimos sobre cidadãos a decisões judiciais não cumpridas, de erros nas contas públicas a constantes revisões, em alta, das previsões do desemprego, tivemos mais ou menos de tudo.

E estas notícias tiveram tal impacto que passou praticamente despercebida uma outra que, a confirmar-se, terá forte e duradouro impacto na vida de todos nós.

Tal notícia resume-se em poucas palavras. A saber:

• A distribuição de água deixará de ser competência dos Municípios;

• O preço da água será igual em todo o país;

• A distribuição será concentrada em 4 ou 5 grandes empresas detidas pela AdP, pelo menos por enquanto.

Refira-se que não se trata de especulação de qualquer jornalista já que o Presidente da AdP confirma tudo isto em entrevista.

Apesar da vital relevância da água a questão vai, porém, para além dela!

Andamos, há décadas, a defender descentralização e proximidade. Agora que os investimentos estruturantes estão feitos e pagos, que a qualidade do serviço é genericamente boa, que há uma generalizada sensação de equilíbrio nos preços praticados, o Governo descobriu que este novo modelo está pleno de virtualidades quanto à “sustentabilidade”, “sinergias operacionais e de investimento”, “gestão mais eficaz de riscos financeiros”, etc.

Este discurso, de vagos ares técnico-científicos, se traduzido para Coimbra quer dizer que uma família com um consumo médio mensal de 10m3 passaria a pagar cerca de 55€/mês, contra os 21€/mês que paga actualmente.

Ou um consumidor industrial que tenha um consumo médio mensal de 1000m3 passaria a pagar cerca de 40.000€/ano, contra os 23.000€/ano que paga agora.

Olhando para o universo das Águas de Coimbra, a sua receita anual de venda de água passaria da actual receita municipal anual de cerca de dez milhões de euros, para uma receita empresarial de aproximadamente vinte e cinco milhões de euros!

O exemplo de Coimbra apenas se dá aqui por nos ser mais próximo, pois bem sei que os autarcas de Coimbra estão genericamente contra tal medida, posição que deve merecer o apoio de todos nós.

O que ainda não se percebeu, e devia ser esclarecido com urgência, é se o Governo quer desenvolver um processo negocial, um processo legislativo impositivo, ou esperar por um momento de fragilidade das finanças autárquicas para fazer de conta que negociou. É que, para simulação de negociação, já chegou a linha de crédito de mil milhões de euros acordada a semana passada. Curiosamente, um quarto deste montante parece que vai para a AdP, a título de pagamento de facturas vencidas…

Não andará gente a mais a meter água?

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