Refém de 18 degraus durante um ano

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Luís Pedro vive em Vilarinho, no concelho da Lousã. É casado. Há três anos um acidente de viação trocou-lhe as voltas. Primeiro, conta, “uma operação simples” e dois meses na cama de um hospital. No Centro de Medicina de Reabilitação da Região CentroRovisco Pais cumpriu o programa de recuperação. “Aprendi a gostar de viver…”, confessa.

No relato entra, também, a solidariedade dos companheiros da equipa de futsal do Serpinense, o baile de angariação de fundos e o desfazer do sonho: jogar ao mais alto nível.

O “bom momento de forma” e o interesse anunciado de alguns emblemas do futebol nacional ficaram gravados na memória para sempre.

O regresso casa, porém, revelou-se a prova mais dura para Luís Pedro; “um grande problema, pois nada estava acessível”, afirma. Ficou refém dos 18 degraus que ligam a entrada do prédio onde mora ao primeiro andar.

Nos primeiros tempos, a esposa e os amigos carregavam a cadeira de rodas, mas “para não incomodar” acabou por desistir de pedir ajuda. E passou um ano; “um longo período”. Luís Pedro constata que passou praticamente um ano fechado em casa antes de procurar ajuda.

Na Provedoria Municipal das Pessoas com Incapacidade da Lousã iniciou “o caminho para a liberdade”: “fui enviado para a ARCIL – Associação para a Reabilitação de Cidadãos com Incapacidade da Lousã e, com o apoio da terapeuta Verónica Pedro, foi dado início ao processo de apoio”.

A avaliação dos técnicos foi o passo seguinte e a solução encontrada – a instalação de uma plataforma elevatória – um sinal de esperança.

A montagem do sistema que utiliza diariamente para entrar e sair de casa não foi pacifica, já que os vizinhos não viram como bons olhos a intervenção.

Com a plataforma “já encomendada algumas pessoas levantaram questões relativamente à segurança”. Ernesto Carvalhinho, até há pouco tempo provedor das Pessoas com Incapacidade da Lousã, fez da paciência lei, garantindo “o final feliz”: a montagem da plataforma e a adaptação dos acessos ao parque de estacionamento”.

A Câmara Municipal da Lousã interessou-se pelo problema e Luís Pedro é hoje em dia um homem livre: “não preciso de ninguém! Sou uma pessoa normal, apesar de andar de cadeira. Saio e entrou em casa quando quero e não preciso de pedir ajuda à minha esposa ou ao vizinho”.

Uma semana depois da montagem da plataforma, conta, “outra boa notícia”: a entrega do automóvel adaptado. “Não sei explicar… Fiquei completamente autónomo”.

A formação profissional (reparação e manutenção de material médico e biomédico) realizada na ARCIL e a prática desportiva – remo indoor – constituem “a nova vida” de Luís Pedro.

No Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro –Rovisco Pais iniciou a prática do basquetebol em cadeira de rodas, mas, com o regresso à Lousã, através dos responsáveis da ARCIL, optou pelo remo. “Cheguei a praticar a modalidade na água, mas, agora, pratico a variante indoor”, afirma.

O processo de independência, como lhe chama, só estará completo no dia em que conseguir fechar o ciclo, garantindo o tão “desejado” emprego. “Não sou homem para ficar fechado em casa. Sou perfeitamente autónomo e acredito que vou alcançar a liberdade total”, garante.

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