Gente que nunca morre

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António Dias Lourenço faleceu a 7 de Agosto aos 95 anos. Operário desde criança, comunista aos 17 anos, foi revolucionário a vida toda. Dias Lourenço esteve preso por duas vezes, num total de 17 anos. Detido em 1949, evadiu–se de Peniche, em 1954, numa audaciosa fuga da cela de castigo, atirando-se ao mar e nadando até à praia. Em 1962 foi preso de novo e só com o 25 de Abril alcançaria a liberdade. Foi um dos mais destacados dirigentes do PCP. Teve participação activa, com Álvaro Cunhal, na reorganização do Partido em 1940/41. Viveu largos anos na clandestinidade, sendo responsável por várias organizações, entre as quais, pela Organização Regional das Beiras. Foi deputado, director do jornal “Avante!” durante 17 anos. Dias Lourenço foi membro do Comité Central do PCP por mais de meio século e dos seus organismos executivos.
Dias Lourenço era sobretudo um homem bom, extremamente humano. Amante profundo da liberdade. Uma amiga recordava, poucos dias antes de ele morrer, que nos últimos anos, já debilitado, escapava aos familiares na Festa do Avante, para palmilhar a festa livremente, deixando-os um pouco preocupados, apenas mais tranquilos pois deixava atrás de si um enorme rasto de muitos amigos que o iam encontrando e dos muitos visitantes que o saudavam em diversos recantos da Quinta da Atalaia. Foi este comunista que nunca quis ficar preso que o cronista do DN recordou, relatando que da janela da redacção do “Avante!” o viu descer uma ladeira no mesmo dia em que fora submetido a uma cirurgia à vista. Tinha escapado do hospital, respondendo à filha que esta estava farta de saber que não gostava de ficar preso!
Dias Lourenço foi um dos homens que construí-ram o PCP. Com Cunhal e outros, num esforço heróico, o PCP cresceu e adquiriu aquilo que ainda hoje o caracteriza, uma profunda ligação ao povo.
Homens como Dias Lourenço deram uma vida inteira por um ideal de liberdade, na luta contra a ditadura fascista e pela construção de uma sociedade sem exploração. Fizeram-no sem nada receberem em troca. Ou antes, recebendo em troca a admiração dos seus camaradas e o respeito do seu povo, mesmo de muitos dos que não se identificam com o ideal por que lutaram. Homens como ele deixaram a sua juventude nas masmorras, sob torturas e privações de todo o tipo. Dias Lourenço recordava frequentemente a maior tortura a que a PIDE o submeteu, quando apenas lhe permitiram alguns breves instantes para se despedir do filho que morreria pouco depois e a quem dedicou “Saudades…não têm conto! – Cartas da prisão para o meu filho Tóino”.
António Dias Lourenço foi um desses raros homens que identificamos no poema de Brecht “Há homens que lutam um dia, e são bons/ Há outros que lutam um ano, e são melhores/ Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons/ Porém, há os que lutam toda a vida/ Estes são os imprescindíveis!”
Por vezes questiono-me – o que terá o PCP de especial para dispor assim de mãos cheias de “imprescindíveis”?

António Dias Lourenço faleceu a 7 de Agosto aos 95 anos. Operário desde criança, comunista aos 17 anos, foi revolucionário a vida toda. Dias Lourenço esteve preso por duas vezes, num total de 17 anos. Detido em 1949, evadiu–se de Peniche, em 1954, numa audaciosa fuga da cela de castigo, atirando-se ao mar e nadando até à praia. Em 1962 foi preso de novo e só com o 25 de Abril alcançaria a liberdade. Foi um dos mais destacados dirigentes do PCP. Teve participação activa, com Álvaro Cunhal, na reorganização do Partido em 1940/41. Viveu largos anos na clandestinidade, sendo responsável por várias organizações, entre as quais, pela Organização Regional das Beiras. Foi deputado, director do jornal “Avante!” durante 17 anos. Dias Lourenço foi membro do Comité Central do PCP por mais de meio século e dos seus organismos executivos.Dias Lourenço era sobretudo um homem bom, extremamente humano. Amante profundo da liberdade. Uma amiga recordava, poucos dias antes de ele morrer, que nos últimos anos, já debilitado, escapava aos familiares na Festa do Avante, para palmilhar a festa livremente, deixando-os um pouco preocupados, apenas mais tranquilos pois deixava atrás de si um enorme rasto de muitos amigos que o iam encontrando e dos muitos visitantes que o saudavam em diversos recantos da Quinta da Atalaia. Foi este comunista que nunca quis ficar preso que o cronista do DN recordou, relatando que da janela da redacção do “Avante!” o viu descer uma ladeira no mesmo dia em que fora submetido a uma cirurgia à vista. Tinha escapado do hospital, respondendo à filha que esta estava farta de saber que não gostava de ficar preso!Dias Lourenço foi um dos homens que construí-ram o PCP. Com Cunhal e outros, num esforço heróico, o PCP cresceu e adquiriu aquilo que ainda hoje o caracteriza, uma profunda ligação ao povo. Homens como Dias Lourenço deram uma vida inteira por um ideal de liberdade, na luta contra a ditadura fascista e pela construção de uma sociedade sem exploração. Fizeram-no sem nada receberem em troca. Ou antes, recebendo em troca a admiração dos seus camaradas e o respeito do seu povo, mesmo de muitos dos que não se identificam com o ideal por que lutaram. Homens como ele deixaram a sua juventude nas masmorras, sob torturas e privações de todo o tipo. Dias Lourenço recordava frequentemente a maior tortura a que a PIDE o submeteu, quando apenas lhe permitiram alguns breves instantes para se despedir do filho que morreria pouco depois e a quem dedicou “Saudades…não têm conto! – Cartas da prisão para o meu filho Tóino”. António Dias Lourenço foi um desses raros homens que identificamos no poema de Brecht “Há homens que lutam um dia, e são bons/ Há outros que lutam um ano, e são melhores/ Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons/ Porém, há os que lutam toda a vida/ Estes são os imprescindíveis!”Por vezes questiono-me – o que terá o PCP de especial para dispor assim de mãos cheias de “imprescindíveis”?

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