Opinião: Fonte luminosa

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Corria o 19 de Julho de 1975 quando o Partido Socialista juntou em Lisboa, na Alameda D. Afonso Henriques, uma impressionante massa humana naquele que ficou conhecido como o comício da “Fonte Luminosa”.

O comício, que teve uma duração hoje impensável, dá-se no contexto do chamado “verão quente”, depois de os ministros indicados pelo PS (Salgado Zenha, por exemplo) se terem demitido do IV Governo Provisório chefiado por Vasco Gonçalves. O PS assumia-se como a grande força de combate à tentativa hegemónica do PCP de instauração de uma “democracia popular”.

O discurso então proferido por Mário Soares é de uma violência tal que só encontra fundamento no clima de alta tensão que se vivia. Nos dias que correm, menções a uma “cúpula dementada” ou a “paranóicos” são incomuns no discurso político. Julgo que, na nossa história, só o discurso de Afonso Costa, em 1906 na Câmara dos Deputados, se lhe pode comparar em violência verbal. Isso não implica, bem entendido, qualquer identidade entre o comportamento dos dois políticos. Dir-se-ia, aliás, que Mário Soares aprendeu com os erros de Afonso Costa ao não hostilizar a Igreja Católica.

Mas o tempo, como diz a escritora, é um “grande escultor” e, quatro décadas depois, cá temos um governo do PS apoiado no parlamento pelo PCP. É solução a que ninguém, no seu perfeito juízo, pode augurar vida longa. Serve para períodos de certa bonança como o que vivemos, não terá préstimo em períodos mais duros. De todo o modo, confirma, acaso houvesse dúvidas, que, em política, não há impossíveis.

 

 

 

 

 

 

 

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