Opinião: Onde se fala de banana e de Hannah Arendt

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António Menano

A cena passa-se em Coimbra, numa loja onde se vendem produtos alimentares. Entra uma senhora, já de certa idade e pergunta: “Tem bananas da Madeira?”.

A empregada, talvez tentando ter piada: “Não, só tenho do Funchal”. A freguesa responde-lhe: “Então não quero. Não compro nada dos Açores”. Aqui ficamos sem saber se estamos em face de alguma ignorância, ou de muita inteligência, e da mais refinada ironia. Este facto aconteceu. Conheço quem o presenciou.

Hannah Arendt, que relacionou, como ninguém, no século passado, os espaços público e privado, ao escrever sobre o termo “interesse”, lembrou-nos que ele significa algo que se encontra entre as pessoas, inter est. Ou seja, encontra-se entre. O interesse pode unir, ou afastar os seres humanos, pois “o mundo só se torna humano quando é transformado no objeto do discurso”.

Arendt refere que, além da esfera pública e privada, existe, a esfera social. Toda a vida em relação está preenchida. Apenas aquilo que designa “ por intimidade do coração” será “ o último reduto da esfera privada”. Uma banana, objecto de venda, de troca, de comércio, alimenta o corpo, e permite alargar o cérebro, ou, como gostaria Hannah Arendt soltar o coração.

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