Opinião. Um problema chamado stock

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Para a maioria das empresas os últimos tempos foram de muita dificuldade em termos de angariação de novos negócios e até mesmo da manutenção dos que já existiam na fase pré-covid. Agora que a economia parece dar sinais de retoma, em função do desconfinamento a que temos assistido – quer em Portugal quer na Europa que é o principal mercado das empresas exportadoras nacionais – surge um outro problema que é transversal a quase todas as empresas: a dificuldade em ser fornecido em timings e preços aceitáveis nas “matérias-primas” que são necessárias ao processo de transformação.

A globalização faz com que grande parte das nossas empresas dependam de fornecimentos de matéria-prima que têm como origem países que não o nosso. Sendo o mercado de origem mais ou menos afectado pela pandemia, há um conjunto de factores, consequências directas e indirectas da mesma, que podem fazer com que a chegada dessas matérias-primas ao nosso país seja simplesmente uma impossibilidade.

Quando não é impossível, vamos ter certamente prazos de entrega bem mais dilatados que no passado, o que por si só pode condenar determinados negócios. Se conseguirmos ser fornecidos e em prazos compatíveis com a nossa necessidade, vamos lidar com outro problema: o preço.

Conscientes dos compromissos assumidos e que a vida das nossas empresas não pode parar, em regra, a tendência do empresário será salvaguardar o fornecimento, pagando naturalmente mais caro. Conscientes também da dificuldade em promover aumentos de preço numa economia em retração, a solução tem sido suportar a diferença que daqui resulta com um abatimento da margem liberta.

Já foram noticiadas paragens de produção de diversas empresas de grande e muito grande dimensão no nosso país por falta de componentes para incorporação no processo produtivo, como são exemplo a Autoeuropa, a PSA ou até mesmo a Bosch. Mas não pensemos que esta problemática está só em empresas de grande dimensão e com requisitos de componentes altamente tecnológicos como os célebres chips.

A generalidade das empresas lida com esta problemática, mesmo em produtos de base tecnológica reduzida ou nula. Dou a título de exemplo algo que afeta a empresa que dirijo: salvaguardar o fornecimento de uma “simples” forma metálica de alumínio para o processo produtivo de pastel de nata é uma aventura.

Esta é uma problemática séria, e que poderá condenar muitas empresas no curto prazo se tal não se regularizar. Anular a dependência de terceiros na cadeia de fornecimento é uma impossibilidade para a generalidade das empresas. Bastante visível também é o aumento generalizado de preços a suportar pelo consumidor final, que caso esta instabilidade se mantenha, terá como consequência um aumento ainda mais significativo e o que atualmente regista subidas médias de 10 ou 15% poderá ter de aumentar 30 ou 40%.

Esta será neste momento uma das principais ameaças à retoma da actividade das nossas empresas no pós-pandemia. Como parte integrante de uma cadeia de fornecimento onde somos obrigados a falhar com os clientes se os fornecedores falharem connosco, espero que saibamos todos fazer o nosso melhor para uma resolução tão urgente quanto possível desta problemática. As nossas empresas precisam de trabalho, não de serem obrigadas a estar paradas.

*Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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