Opinião – Pensar nos médicos e naqueles que servimos!

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Cesário Andrade Silva

Cesário Andrade Silva

Com o aproximar das eleições, tem a Ordem dos Médicos (OM) realizado iniciativas que se saúdam mas que em boa verdade pecam por tardias e têm sempre o cheiro eleitoralista, típico da fase final dos mandatos. O último exemplo de quanto a OM vem tardiamente manifestar-se é a posição recente sobre as terapêuticas alternativas, em que afinal somos contra por não terem suporte cientifico (e aqui não sei qual é a novidade pois sempre se soube que as mesmas o não tinham e à data da aprovação da Lei em 2003, muitos pensaram que a mesma ficaria na gaveta mas uma decisão judicial e a posterior regulamentação em 2013, lançaram em definitivo estas práticas para a sociedade um conjunto de práticas onde tudo tem sido válido e a OM teve um silêncio absoluto somente quebrado por médicos nas suas tertúlias e em artigos publicados sobre a questão), por produzirem e venderem os seus próprios produtos, por não terem as mesmas regras que os médicos nas questões da consulta, exames, prescrição e conduta ética. E sobre este problema de saúde pública, a realização na nossa casa do Porto de um encontro sobre as mesmas foi a meu ver um erro. Dar-lhes guarida, torna-os mais fortes e permiti-lhes ter argumentos para o futuro. Serão os médicos mais novos a pagar por mais esta ousadia, e isso preocupa-nos, mas com certeza, são as populações as mais penalizadas. E andarmos preocupados com os actos dos outros, quando o acto médico é ainda uma miragem é, claramente, demagogo.
Preocupa-me também, o permanente encosto dos dirigentes da OM a tudo o que tem a ver com comemorações, nunca a OM esteve tão bem representada em todo e qualquer encontro onde se fale de saúde, o SNS por exemplo passou a ser comemoradíssimo, inclusivé nos autocarros do SMTUC, plantam-se árvores, vai-se à inauguração de paredes das Unidades de Saúde, corre-se os Distritos Médicos à procura do erro ou a realçar trabalho ou a inexistência dele, etc e sinceramente não me parece que deva ser esse o papel da Ordem dos Médicos. Aliás, contrasta vivamente com os pergaminhos da OM, enquanto estrutura não sindical mas sim com as preocupações de qualidade, ética e responsabilidade profissional.
O caminho trilhado até agora pela OM, que teve em consonância com outras organizações, poucas vitórias, deve ser mudado, reconfigurado e reorientado e, seguramente que, os futuros dirigentes, terão esse cuidado em não permitir que a Ordem seja, um terceiro sindicato ou mais grave, um pseudo-partido com ambições de poder. E para que não haja equívocos, sou apoiante, porque também promotor, da única candidatura até agora assumida por um Colega a Bastonário da OM, pois que lhe reconheço um trajecto dentro e fora da classe que me dá garantias de mudança.
O nosso ainda Bastonário (que volto a dizer realizou um trabalho notável), disse na sua tomada de posse deste mandato que agora termina, que a tónica do trabalho da Ordem dos Médicos, deveria ser colocada no trabalho dos Colégios das várias especialidades, mas estes são sempre abafados pelos interesses dos presidentes regionais, que procuram sempre garantir, não a descrição e efectividade de trabalho para os Médicos mas sim acções que visem garantir a sua reeleição. E se à mistura, houver interesses partidários e sede de poder, toda a sua actividade fica a esse sabor condicionada. Esperemos que a classe médica aproveite mais um acto que se aproxima para recolocar a OM no seu trilho original e estatutário.
O modelo actual do nosso SNS, é baseado em dois vectores, Cuidados de Saúde Primários e Cuidados Hospitalares em que cada um tem o seu papel bem definido e melhorado nos anos que passaram, onde se foi limando e aprimorando os métodos e práticas. A sua interrelação foi sempre objecto de discussão e do modo como no seu todo, será melhor o serviço às populações que servem, na maior parte dos casos sobreponível. Esta retórica vem a propósito de cada vez mais e de modo insistente, haver vozes que colocam as Unidades Locais de Saúde como a base de todo o Sistema de Saúde. Objectivamente, os dados experienciais são contra. Não há vantagens objectivas nesse modelo que centraliza numa determinada região, ambos os cuidados, primários e hospitalares. Contudo o que move os nossos governantes para o mesmo. Primeiro, os “jobs for the boys”, nestas estruturas há muito espaço para Conselhos de administração, CEO, CFO, gabinetes jurídicos, fiscais, de aconselhamento, etc. Em segundo, a subalternização dos Médicos e Enfermeiros de Família que vêm assim arrombadas as suas carreiras com a prestação de serviço gratuito a nível hospitalar e cercados por uma rede onde o objectivo é curativo e onde a prevenção passa a ser de menor importância. Atestam-nos os relatórios que saem, carregados dos números estatísticos que mais interessam ao Ministério e onde se misturam coisas tão diferentes como uma apendicectomia e uma tiroidectomia, pois para os estatísticos, são duas cirurgias, ponto. Em terceiro a preparação (porque não abandonada) da privatização ou gestão privada das estruturas referidas, já limadas e mais apetecíveis. E não chega que sejam só as Organizações Médicas a terem esta preocupação, é necessário que os cidadãos tenham conhecimento desta preparação em marcha da destruição progressiva do sistema nacional de saúde, retirando-lhe recursos humanos e materiais mas também desmontando a base de sucesso do mesmo, para que de modo fácil seja tido como irrelevante e desnecessário à saúde global dos Portugueses.
Há que sensibilizar as pessoas para a necessária mobilização em defesa de um sistema de saúde com provas dadas, com números que orgulham, como modelo a ser copiado e não como uma mancha negra onde se gasta dinheiro em prol da saúde, qualidade de vida e aumento brutal da sobrevida das pessoas, que nalguns casos passou para o dobro do tempo e isso é notável.
Impressionante foi como a Médica de Família de Almeirim, de seu nome Hélia, foi ao programa de televisão, The Voice, cantar e encantar, vale a pena ver a sua actuação, e mostrar como se pode conciliar talento, trabalho e família. Vejam que orgulha a todos, principalmente a nós, Médicos.

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