Opinião – Não é para amadores

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Ricardo Castanheira

Ricardo Castanheira

Disse um dia Tom Jobim, sobre o Brasil. O génio tinha razão. Não é fácil compreender, e menos ainda sobreviver, no imenso mar de incongruências e contrastes que compõem a sociedade brasileira. Quando tudo vai bem é praia e samba. Porém, estamos, agora, prestes a descer ao inferno.

Uma classe política desqualificada é a única e principal responsável pela calamidade instalada. Um sistema que vive há muito assente na corrupção, num falacioso modelo alimentado pelo voto obrigatório e por uma ausência estrutural de educação (latu sensu). Daí a deixar ao poder judicial o espaço necessário para se afirmar como referência cívica foi um pequeno passo.

Milhões têm saído às ruas para contestar um modelo político-partidário que entrou em colapso e para dizer basta aos protagonistas de todos os quadrantes que deixaram de responder aos anseios do povo. Por tudo isso é muito fácil compreender que os cidadãos encontrem, hoje, num juiz da primeira instância (Moro), assim como, ontem, no Presidente do Supremo Tribunal Federal (Joaquim Barbosa) os referenciais para salvar o país.

A judicialização da vida política não é saudável e menos ainda um poder (seja ele qual for) sem controlo, porém pior ainda é um poder político que não se sabe regenerar e que vive em absoluto dependente de práticas nada republicanas e na mentira institucionalizada.

A democracia brasileira precisa ser reinventada e o contexto atual tem a virtude de poder oferecer as condições ideais.

Claro está que aquele jeitinho endémico de resolver problemas mistifica a realidade.

A hipocrisia reinante é tanta que há, hoje, quem se apegue mais à forma que ao conteúdo. As escutas telefónicas reveladoras de golpes e atitudes pouco dignas por partes das principais figuras do estado, ainda que possam formalmente ir além do admissível, serviram para por a nú esquemas repugnantes de preservação de poder.

A riqueza material do país ainda pode aguentar mais algum tempo e golpes, porém a paciência do povo parece ter chegado ao fim.

Finalmente, uma leitura menos apaixonada e objetiva deveria aconselhar alguns portugueses a não estabelecer paralelismos entre duas realidades totalmente distintas.

O que hoje se passa no Brasil não tem comparação possível (pela dimensão, impacto e consequências) com os casos de corrupção recente em Portugal. As coisas desiguais tratam-se de forma desigual.

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