Não havia necessidade

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Ricardo Castanheira

momentos em que não sabemos se vivemos todos no mesmo mundo ou pelo menos na mesma realidade. O desfasamento é tão absurdo

Nas últimas semanas, um pouco por todo o lado e emespecial nas redes sociais, temos lido que as políticas restritivas e os consequentes sacrifícios impostos pelo governo português aos cidadãos teriam sido desnecessários. Ainda assim não se ouve uma reação do governo ou sinal de mudança.

A ditadura dos tempos modernos não tem essência política mas financeira, por isso mesmo se justifica que agências de rating e especuladores tenham conseguido derrubar governos um pouco por toda a Europa. A liberdade está ameaçada não porque faltem direitos, mas porque se não podem exercer dados os constrangimentos económicos. Incompreensivelmente, a legitimidade democrática dos governos não conseguiu forçar um rumo distinto. Cedeu!

Num artigo brilhante – simple e onde não é necessária especial formação para compreender o que fica dito – o prémio nobel da economia, Paul Krugman, citou Keynes: “o momento de expansão, e não de retração, é a hora certa para o Tesouro Nacional ser austero.”

Acrescentou ainda na mesma linha o Nobel: ”um governo que adota política de cortes numa economia em depressão faz a queda ser pior; a austeridade deve esperar até que a recuperação esteja bem encaminhada”. Mas será que quem está sentado no Terreiro do Paço e no Berlaymont, em Bruxelas, não compreende isto?

Mas desengane-se quem acha que estamos apenas no domínio académico e das doutrinas económicas. Há exemplos materiais.

Lula da Silva, após os primeiros sinais de crise mundial, em 2008, determinou que os impostos sobre diversos bens de consumo baixariam, que o Estado deveria financiar políticas de construção de casas e de automóveis, entre outras medidas. Deu um choque de estímulo na economia. Fez o que Keynes teorizou. Quando todo o Mundo estava num sentido, Lula decidiu seguir o inverso. Promoveu o investimento público e não agravou a carga fiscal. Conclusão, o Brasil é hoje um manifesto caso de sucesso por ter passado quase incólume à crise onde Europa e EUA vão ainda sucumbindo.

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