Opinião – Rhynchophorus ferrugineus

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PAULO-VALERIOPaulo Valério

Parece que o Rhynchophorus está a matar as palmeiras de Coimbra. Já há uns tempos, um fungo que deve ser primo dele, a julgar pelo apelido com asteriscos e raízes quadradas, tinha arrumado com umas dezenas ( 40!) de plátanos, no Parque Manuel Braga. É assunto em que não me quero meter. Percebo pouco de fungos e menos ainda de raízes quadradas. Mas não deixa de ser curioso, desde logo, que o Parque que sobreviveu a dezenas de Queimas das Fitas, venha a sucumbir, dizem os entendidos, às mãos do stress.

Eu sei do que estou a falar. Taberna, mictório, enfermaria, sala de chuto, pousada e motel, o Parque Manuel Braga já foi um pouco de tudo nesta vida. Os mais esquecidos experimentem, por instantes, revisitar uma ou duas cantigas da Orxestra Pitagórica e apreciem essa admirável viagem aos jardins proibidos da nossa juventude. Depois “encontramo-nos no coreto”. Já está? Voltemos a este escrito enfadonho.

É uma ironia extraordinária. Tantos anos depois de termos inaugurado o Queimódromo para proteger o Parque, onde agora praticamente só circulam idosos, as árvores começam a padecer de um fungo provocado pelo stress e acabam por ser abatidas, uma por uma.

O Rhynchophorus ferrugineus faz-me lembrar muito esta crise. Durante mais de vinte anos, andámos às ordens da Europa, passámos a ser mais bem comportados e asseadinhos e, como é costume dizer-se, “mudámos de paradigma”. Agora, ironicamente, somos atacados por um bicho de apelido economês que ninguém consegue decifrar e a Europa manda-nos abater, pura e simplesmente.

Estranho tempo este, em que já nem as árvores morrem de pé.

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