Opinião – O cinzento ritual

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Paulo Valério

Paulo Valério

Coimbra não tem ministros ou secretários de Estado no governo. E não se diga que a ministra da presidência ou da administração interna, o secretário de estado dos assuntos fiscais ou mesmo o secretário de estado das florestas contrariam esta constatação.

Não é Coimbra que os tem. Tem-nos António Costa, que neles deposita confiança pessoal e política, por razões que nada têm a ver com o que acontece do Choupal até à Lapa.

Não gosto de ser provinciano. E sei que, por vezes, este discurso da perda de influência de Coimbra e a contagem de espingardas que lhe está inerente pode ser confundida com filistinismo. Mas também não gosto de ser parvo. E seria parvo se me conformasse com a suposta normalidade da situação.

Quando se diz que, em política, o que parece é, está-se a falar do lado simbólico da política. A política faz-se de ritos e sinais, que só quem gosta de ver passar navios ignora.

Os sinais que recebemos, que nem são novos, sugerem, muito cruamente, que Coimbra é irrelevante no xadrez nacional e que, em grande medida, isso está relacionado com a irrelevância das suas elites políticas.

Acho sempre piada quando ouço os meus patrícios dizerem que a melhor parte da A1 é a placa que diz norte. Mas fico particularmente nervoso quando constato nos políticos da cidade o mesmo comportamento castiço.

Talvez lhes saiba melhor o quentinho da Praça da República, onde os passantes se vergam pungentes à sua passagem. Mas é a própria cidade que se verga, a cada passo desse cinzento ritual. E só não vê quem não quer.

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