Opinião – Hagiografia do mês de Setembro

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Manuel Augusto Rodrigues

No calendário litúrgico de Setembro à semelhança dos outros meses do ano regista-se a memória de uma série de santos e de vários factos religiosos que deixaram um rasto importante no imaginário e na vivência dos povos e que ainda hoje continuam a merecer grande veneração de todos, crentes e não crentes. Alguns têm uma dimensão universal, outros radicam-se num determinado país ou área geográfica.

Ao longo dos tempos e nos mais recônditos lugares, em igrejas e modestas capelas, onde frequentemente se guardam as suas relíquias, presta-se culto a certas figuras carismáticas que se impuseram pelas suas qualidades excepcionais e penetraram na devoção e na mentalidade dos povos. Mantêm a sua vitalidade e passam de geração em geração. São tradições bem enraizadas, que constituem um verdadeiro património material e espiritual e em que a interioridade se sobrepõe à racionalidade. Por vezes o sagrado e o profano unem-se na celebração de tais eventos. Se olharmos à nossa volta, constatamos o grande número de festas onde o elemento religioso amiúde aparece associado a feiras, actividades agrícolas, culturais, desportivas e outras. Qualquer localidade se orgulha de anualmente dedicar um dia ou mais à realização de actos evocativos em honra do seu patrono. O santo é o símbolo, o protector e o representante máximo de uma terra ou nação. É a ele que instintivamente se recorre nas aflições e necessidades.

Das festividades da primeira metade deste mês escolhemos estas: o papa Gregório Magno (séc. VI-VII), um dos quatro doutores maiores da Igreja latina, juntamente com Ambrósio, Jerónimo e Agostinho ( 3 ); a Natividade de Maria ou Senhora da Encarnação ( 8 ); o Santíssimo Nome de Maria ( 12 ); o ilustre padre e doutor da Igreja grega João Crisóstomo ( 13 ); a Exaltação da Santa Cruz, a festa principal dos Cónegos Regulares da Ordem da Santa Cruz ( 14 ).

Vêm depois as solenidades da Mater Dolorosa ou Senhora das Dores que deu origem a vários temas como a Pietà, as Sete Dores e o hino Stabat Mater, este cantado por consagrados musicistas como Palestrina, Pergolese, Vivaldi, Haydn, Schubert, Verdi, etc. ( 15 ). A série prossegue com os mártires Eufémia de Calcedónia e Orense, Cornélio e Cipriano ( 16 ); os Estigmas de S. Francisco, as marcas de ferro parecidas com as cinco chagas de Cristo crucificado recebidas em 1224, e o padre jesuíta Roberto Belarmino que se evidenciou em Trento e na polémica anti-protestante ( 17 ).

No mesmo dia, evoca-se a religiosa mística do séc. XI-XII Hildegarda de Bingen, que foi teóloga, compositora, pregadora, naturalista, médica informal, poetisa, dramaturga e escritora e mestra do Mosteiro de Rupertsberg em Bingen am Rhein, na Alemanha, canonizada em 10 de Maio de 2012 por Bento XVI que a 7 de Outubro de 2012 a proclamará doutora da Igreja. Seguem-se o mártir Januário, venerado dum modo particular em Nápoles, onde se conservam as suas relíquias e anualmente se verifica a liquefacção do seu sangue ( 19 ); os mártires coreanos André Kim Taegon, Paul Chong e seus companheiros ( 20 ); o apóstolo e evangelista Mateus, tão ligado a certas cidades do país como Viseu e Soure, onde têm lugar grandes feiras ( 21 ); a Senhora das Mercês, protectora da redenção dos cativos, que deu origem a uma ordem religiosa ( 24 ); os mártires Cosme e Damião, protectores dos médicos ( 26 ); Vicente de Paulo, o bem conhecido fundador dos Lazaristas e das Conferências do seu nome ( 27 ); os anjos Miguel, Gabriel e Rafael, o primeiro dos quais, juntamente com São Jorge, se tornou o santo patrono da cavalaria e depois dos oficiais de polícia e dos militares e que é o padroeiro da Capela da Universidade de Coimbra (29); e o padre da Igreja latina Jerónimo, célebre tradutor da Bíblia para latim (Vulgata) e exegeta, celebrado anualmente pelos Hospitais da Universidade de Coimbra que funcionaram outrora no célebre Colégio do seu nome (30).

Em Setembro são ainda evocadas outras personalidades ilustres como Albert Schweitzer, teólogo, músico, filósofo, médico e missionário no Gabão, onde faleceu na cidade de Lambaréné em 1965, a quem foram atribuídos os prémios Goethe (1928) e o Nobel da Paz (1952) (10); o sueco Dag Hammarskjöld, secretário-geral das Nações Unidas (ONU) e, a título póstumo, Nobel da Paz, que o presidente John F. Kennedy considerou “o maior estadista do nosso século” (17); e Confúcio (551 a.C. – 479 a.C.), o célebre pensador e filósofo chinês do Período das Primaveras e Outonos (28). No calendário judaico temos duas festas importantes: o Ano Novo (Rosh ha-Shanah) do ano 5773 da era hebraica (17-18) e o Dia da Expiação (Yom Kippur) (26).

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