Ventos e tempestades

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Júlio Marques Mota

Será que, da mesma forma que vemos os Governos vendidos à lógica dos mercados e que vemos a União Europeia a assistir serenamente à sua própria derrocada; da mesma forma que assistimos a que problemas e dificuldades comuns atravessem a maioria dos países, somos agora forçados a entender o que se está a passar como sendo o colapso do que poderia ser um enorme espaço de cidadania, o grande espaço dos Direitos do Homem.

Será que, da mesma forma, estaremos a ver Portugal e Espanha condenados a desaparecer como espaços autónomos e por isso os juntamos aqui? Será assim, ou será porque estes dois países estão actualmente a ser atravessados pelo mesmo tipo de problemas e pela necessidade de uma saída, também ela eventualmente comum?

De Espanha “não vem nem bom vento nem bom casamento”, ouvi dizer desde a infância e lembro como minha mãe chorava quando o vento suão lhe arrasava o único património, a sua única riqueza (para além de uma pobreza que a dignificava), aquilo de que vivia: a cura de queijo fresco destinado, depois de curado, à venda porta a porta. Património que se desfazia em nada quando o vento da meseta soprava implacável.

De Espanha, nesta Primavera do nosso desencanto e descontentamento, o que nos sopra não são os ventos devastadores da Meseta, são os ventos da revolta de um povo que, num período de crise violenta cujo fim não se vislumbra., diz não à lógica suicida e às políticas fortemente restritivas que assolam a Europa, impostas por Bruxelas para satisfazer a ganância dos mercados. De Espanha são ventos de revolta e de esperança também os que agora sopram.

Com a Grécia submetida, com a Irlanda vencida, com Portugal a ver a sua riqueza patrimonial vendida ou hipotecada, com Espanha a ser agora fortemente agredida e a Itália à espera de uma outra saída, neste cenário de desolação, diríamos que da Democracia muito pouco nos resta. Muitos pensarão que dela já sente a despedida.

Será que Bruxelas, o BCE, o FMI não se limitam a assistir à derrocada da Europa e nela participam activamente com políticas de austeridade e com severas determinações financeiras impostas cegamente pelos mercados a Estados ainda formalmente soberanos? Por absurdo que pareça, temos a sensação de que não é incorrecto pensarmos que estamos a voltar aos tempos da barbárie absoluta.

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