Pedro, o incendiário

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Que o PSD aspire a ser poder é natural. Que o atinja em eleições normais é democrático. Que o pretenda fazer pouco tempo depois de eleições legislativas que perdeu e numa altura crítica da crise financeira, que põe em risco o futuro do país, é lamentável e irresponsável.

Só a ambição descontrolada e a cegueira política explicam a sua posição dos últimos dias. O cenário foi montado com as eleições presidenciais. A vitória do seu candidato fez criar a ideia de que era hora de olhar para o desejo partidário, sempre presente, de ter presidente, governo e maioria.

Esquecido o país, impunha-se que alguém moderasse os desejos, acalmasse atitudes precipitadas e trouxesse bom senso à vida pública portuguesa. Infelizmente o discurso da tomada de posse do presidente foi no sentido contrário. Do apelo à calma desejada surge um incentivo à manifestação. Foi o “Depois do Adeus” para a agitação dentro do PSD se revelar no seu pior.

Passos Coelho via-se ameaçado pela máquina interna que, no período de Sócrates, tinha derrubado um número significativo de líderes. É a minha oportunidade, terá gritado, falta só o pretexto. Qualquer um serviria.

O anúncio da revisão do PEC, exigência comunitária, era a oportunidade. Da necessidade de confiança, surge a instabilidade. Tendo acordado o conteúdo do PEC quanto ao cumprimento do deficit nos próximos anos e tendo pouca margem de manobra para discordar das medidas que reduzem as despesas, fixou-se na forma de uma maneira curial. Tendo sido ele próprio informado plenamente do conteúdo da revisão PEC, a crítica foi que outros também o deveriam ter sido.

Sem analisar as medidas, sem apontar alternativas, recusando uma negociação do que quer que seja, ficou claro o seu objectivo. Não quer nada, só derrubar o Governo. Quando não há um pretexto, até a chuva serve de justificação. O país ficaria antes grato que ajudasse a que os mercados financeiros acalmassem e depositassem confiança em Portugal. Mas qual bombeiro incendiário aparece num cenário de incêndio de lata de combustível na mão, para se deleitar com as chamas.

Quando Pedro Passos Coelho cair em si e começar a anunciar um programa de Governo, aí virá tudo o que diz contrariar. A sua inexperiência governativa levá-lo-á a engolir as medidas que repudiou e a acrescentar umas tantas que sempre apontou como desnecessárias. Começou já a defender aumento de impostos, quando verberava por diminuição da despesa. O seu programa, listado há dias na versão Excel no livro das 365 medidas, é já uma ameaça aos equilíbrios que a sociedade de Portugal precisa. Pedro Passos Coelho dirá o contrário daquilo que vem afirmando e culpará o Governo e o PS pela sua cambalhota. Pago para ver.

 

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