Carta ao poder e aos poderosos

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Norberto Canha

Na carta n.º 1, escrita ao “poder e aos poderosos”, dizia que era contra o encerramento dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Nela prometia que a carta que se segue, a n.º 2, era dirigida ao Ministério das Finanças/ Indústria/ Economia e aos trabalhadores.

Nesta carta começarei por definir o que é um bom profissional, como aquele que está apto a exercer a sua profissão em todos os continentes, todos os países e todos os locais sejam quais forem os meios de que dispõe.

Surge uma interrogação. Serão os nossos trabalhadores (seja qual for a profissão) bons trabalhadores?

Foram? São? Todos terão que ser!

Surge a segunda interrogação. Serão os nossos empresários bons profissionais? Foram? São? Terão de ser!

Terceira interrogação. Estará quem nos governa apto a governar? Está? Estará? Terá de estar!

Quarta interrogação. Estarão os sindicatos aptos a assumir a representatividade dos trabalhadores? Estão? Estarão? Terão de estar!

Não resisto à tentação de fazer um pequeno interregno para contar duas histórias.

A primeira é o ditado popular “água mole em pedra dura tanto dá até que fura”.

A segunda, passada em Coimbra no pós imediato à revolução, um jovem das esquerdas, muito às esquerdas, aparece na Praça da República a pilotar um bruto Jaguar. Um amigo dirige-se-lhe exclamando, então isso é que é ser um homem das esquerdas. Resposta pronta do piloto: “estou a ajudar o meu pai a transformar-se em proletário!”

Há que persistir para que este mundo seja diferente do que está a acontecer e para que a resposta às interrogações postas seja que o acesso a todos os cargos seja o mérito e comportamento e não a agitação e o aparentar o que não é. Hoje o andar esfarrapado é um luxo e caro e no meu tempo era um pesar e vergonha para os nossos pais, que às vezes, nem trapos tinham para remendos. E nós estamos a caminhar para isso. Haja contenção para não haver desperdícios e não se caia no desespero e na indolência. O capital marginal, que não tem Pátria nem religião, espreita. Ele é o poder supremo. Até ele não está livre de se queimar na própria hipocrisia. Não será o que está a acontecer?

Senhores ministros das Finanças, Indústria / Economia apoiem o Ministério da Agricultura. A agricultura é para nós a primeira prioridade e a prova de que somos capazes. Sem agricultura não há liberdade nem governo para governar. Temos de ser auto-suficientes no abastecimento e produção de 85% do que se consome. Até as importações cairão para um nível tolerável e é só pagar o produto a preço justo e não por 1/5 do vendido ao consumidor.

Uma vez que as indústrias caíram para nível 0, ou quási, voltemo-nos para as indústrias de futuro – produção de energia electromagnética, transportes, maquinaria agrícola – para a sua utilização.

Não será que se houver bom senso, verdade e reconhecimento nos países de Expressão Portuguesa espalhados pelo mundo, e se merecemos a sua credibilidade, não podemos ir buscar os capitais para renovar Portugal e renovar o mundo. Que a nossa civilização – oportunidade perdida –, seja a civilização renascida que dava como sempre deu dignidade às pessoas, pregava e não impunha a fé e defendia a miscelânea das raças.

Se houver lucidez para escutar, capacidade para discutir e coragem para apoiar, dentro de dois anos podemos produzir 85% do que consumismos e o resto destina-se à globalização.

Não se pode viver, nem a vida tem significado com o receio permanente de que o cutelo nos caia no pescoço.

Que os senhores governantes e políticos sejam e mostrem como é ser empresário. Mas não incapazes; empresários só das empresas do Estado que dão prejuízo, prejuízos que temos que suportar.

Sejamos coerentes. Cultive-se a verdade, deixemo-nos de demagogias. Os sectores empresariais e operários, seja qual for a actividade, têm que se unir e respeitar. Portugal precisa de todos. O mundo precisa do nosso exemplo. Nós que somos a civilização Lusíada.

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