Marginalização económica?

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José Manuel Canavarro

Os motins na área de Londres constituíram o acontecimento da semana passada. Muito se tem falado sobre o tema.

O factor precipitante poderá ter sido a morte duma pessoa, Mark Duggan, um homem com cerca de 30 anos, que terá sido alvejado pela polícia num bairro do Norte de Londres, numa operação policial que não terá corrido bem.

Alguns analistas apontam falhas sucessivas nos últimos anos à polícia de Londres, o que motivou uma baixa confiança da população na polícia, facto que já se evidenciava antes destes últimos dias, e consequentemente um menor respeito por parte de algumas faixas da população.

Outros analistas dizem que essas falhas, nas quais a dureza excessiva imperou, retiraram prontidão à resposta policial que agora se reclamava dura e não terá sido.

Um facto é que os assaltos e pilhagens aconteceram sobretudo em lojas de bens que não são de primeira necessidade, como computadores, electrodomésticos, telemóveis, jóias, roupas e não em supermercados, por exemplo, num sinal de que o que se procurava não era comida mas aquilo que o pouco dinheiro não pode comprar.

Chris Greer, professor de Sociologia na Universidade de Londres, atribui estes comportamentos a um sentimento de marginalização económica, referindo que há muito tempo que muitos jovens dos arredores de Londres não acedem aos produtos dum pacote do que se poderia designar por cultura de consumo.

Não falta comida, pese o corte de quase dez por cento nos apoios do Estado no Bairro de Tottenham, onde tudo começou, por exemplo. Não parece ser um problema de sobrevivência, nem uma revolta motivada por uma falta básica. Mas sim uma vontade incontrolada, para dizer o mínimo, de chegar a um patamar de conforto ao qual os envolvidos julgam não conseguir aceder por uma via normal.

Nada do que refiro retira relevo ao que sucedeu. É inaceitável, que se roube, que se queime, que se agrida em qualquer circunstância. Ainda mais inaceitável que suceda por algo que não é de primeira necessidade, que não se prende com a sobrevivência da pessoa. O que se passou é um absurdo que nos convoca à reflexão.

Ao tema voltaremos na próxima semana.

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