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Viva a República!

10 de dezembro de 2025 às 11 h09
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Ao contrário do que alguns poderão pensar, o título deste texto não é um grito anti-monárquico nem tem conotações de natureza política. Trata-se, isso sim, de um alerta para a ameaça que paira sobre essa singular instituição da Academia de Coimbra que é a “Real República”.

Como se sabe, esta é a curiosa e paradoxal designação que veio a ser assumida por casas de estudantes que, desde há séculos, respondem à carência de alojamento para jovens que vêm frequentar o ensino superior em Coimbra.

Porque a falta de habitação para alunos não é de agora, antes foi sentida logo que a Universidade se fixou em Coimbra, como refere um artigo de Artur Ribeiro sobre este assunto, publicado na edição digital da revista “Rua Larga” (e que pode ser consultado em https://www.uc.pt/ciuc/rualarga/anteriores/19/16) . Ali se afirma, a dado passo:

“O próprio D. Dinis, por diploma de 1309, promove a construção de casas na zona de Almedina destinadas a serem arrendadas a estudantes e, de igual modo, incentiva os proprietários de casas a arrendá-las e a reconstruírem ou repararem as que estão ruinosas, com o mesmo fim”.
E acrescenta, mais adiante:

“Quando D. João III assumiu o propósito de estabelecer definitivamente a Universidade em Coimbra, tomou, também ele, todas as providências no sentido de que fossem dados aos escolares a necessária morada e os mantimentos bastantes, para que a sua vida em Coimbra, sem outras preocupações, pudesse ser votada aos estudos e à reflexão”.

Assim foram surgindo, ao longo dos tempos, as habitações ocupadas por estudantes, que não só partilhavam a casa, como se organizavam para gerir essas pequenas comunidades, com a atribuição de funções a cada um dos “repúblicos” – uma espécie de governo com vários ministérios e um presidente, o “mor” da República.

Chegaram a ser muitas dezenas as “Repúblicas” de Coimbra, casas de portas sempre abertas, escolas de solidariedade e de cidadania.

A importância das Repúblicas de Coimbra foi mesmo reconhecida através da Lei 2/82 aprovada pela Assembleia da República, abrangendo as “casas fruídas por repúblicas de estudantes de Coimbra”, designadamente protegendo-as de acções de despejo.
Apesar disso, hoje são apenas cerca de trinta as que ainda resistem, lutando com dificuldades, mas mantendo o seu papel relevante no acolhimento e na formação para a vida de rapazes (e desde há alguns anos também de raparigas) que vêm estudar para Coimbra.

É sempre com satisfação que vemos estas “Repúblicas” tornarem-se autónomas, através da aquisição do edifício onde estão instaladas. É o que vai acontecer já depois de amanhã (sexta-feira, dia 12), com a “Real República Ay-Ó-Linda” a concretizar a compra da casa que há muitos anos ocupa no Bairro Sousa Pinto, bem próximo da Universidade.

No mesmo Bairro há outras duas Repúblicas que estão igualmente a lutar pela sobrevivência, procurando angariar fundos para adquirir o edifício que ocupam há muitas décadas. São elas a Real República Rápo-Táxo e a República dos Fantasmas.
É de enaltecer o facto de a Universidade apoiar as Repúblicas na compra das respectivas casas, concedendo-lhes um apoio de 10 por cento do valor da aquisição dos edifícios.

Para obterem o restante, os actuais estudantes promovem iniciativas várias destinadas à angariação de fundos, bem como vão apelando à ajuda dos antigos repúblicos, muitos dos quais voltam a Coimbra anualmente, quando se celebra o “centenário” da sua República.

Felicitando os repúblicos da “Ay-Ó-Linda” pela conquista da sua casa, faço votos de que também a Rápo-Táxo e os Fantasmas (bem como outras Repúblicas que o desejem) consigam alcançar o mesmo objectivo, assim dando continuidade a uma história longa que muito tem valorizado a Academia de Coimbra.
Que vivam as Repúblicas!

Natal
Sendo este o último texto que aqui publico em 2025, quero deixar, a quantos me lêem, votos de Boas Festas e de um excelente ano de 2026.

Aproveito para referir que no próximo sábado (dia 13) iremos ter o Almoço de Natal da AAEC. Todos os antigos estudantes que queiram participar podem inscrever-se ainda hoje, através do e-mail aaec@aaec.pt ou do telefone 917554577.

Autoria de:

Jorge Castilho

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