Opinião: O mundo narcísico e os negócios

A pessoa mercadoria é um produto que se pode pagar. A circunstância social do online, do pagamento por subscrição, da fortuna por visualizações, torna a cidadania numa coisa prostituída. Não tenho nada contra a profissão, mas tenho contra os que a querem taxar, proibir, e outras loucuras, num mundo onde o narcisismo se converteu num negócio florescente. Desabrocha a exposição do corpo, a venda das iatrogenias alternativas, a construção de certezas onde o pântano não consubstancia os pés, e no mesmo tempo, numa desequilibrada contradição moral, quer-se proibir a prostituição. A legalização da venda do corpo devia ser uma exigência do instagram.
O salto complementar para fortificar o negócio é vender uns minutos com a presença de quem se venera. Assim se faz com o pagamento estratosférico da ida de “influencers” a festas e a encontros com políticos. A realidade faz-se da venda da pessoa sem méritos, sem publicação significativa, sem interesse literário ou científico. Por vezes até podem ter, mas essa faceta é irrelevante na venda da imagem, porque de exposição cénica se trata. Podemos ser subscritores pagantes de conta e ter acesso a umas conversas ou directos televisivos com pessoas da net. Seriam “avatars” se não gastassem fortunas em transformação, em exigências enlouquecidas de elixires da juventude. Aqui cabe a nova população da ciência alternativa que desponta da divulgação dos erros e das falhas de ciência vendida por narcisos. O negócio dos cientistas narcisos faz com que debitem certezas onde elas são impossíveis.
No método científico puro, temos de garantir que um produto determina um efeito e depois que aquele efeito resulta daquele produto, e ainda, que sem o produto, o efeito não surge. Nenhum produto aplicado aos homens, às plantas, aos animais, após a sequência mais regulamentada de testes, após a aprovação mais exigente de segurança, está isento de conduzir a um efeito secundário que leve a repensar a sua utilização.
O custo benefício de uma nova molécula tem de ser monitorizado por estas razões. Os cientistas não podem ser os arautos da perfeição já que são sabedores de que ela não existe. Deste modo, conhecemos nas trevas pandémicas, os vendedores de vacinas, pagos pela empresa que as fabricava, conhecemos os que garantiam gestos imaculados para impedir a circulação viral. Conhecemos matemáticos que afiançavam a morte de milhões em Portugal. A realidade demonstrou as suas mentiras e a sua falta de senso.
Os “cientistas influencer” vieram para os tribunais atacar o contraditório. Mesmo após devastadores resultados sobre o que se passou, reduzindo a escombros a montagem do pânico, que construíram três anos ininterruptos, a suspensão dos direitos constitucionais que mantiveram mais de dois anos, a coartação da liberdade aos cidadãos em prol da epidemia menos mortal dos últimos trezentos anos, estas pessoas mantiveram perseguições inquisitoriais para marcar o seu produto.
A ciência influencer é um produto, como a nudez, a roupa, a ginástica curativa, a alimentação salvadora, o naturalismo da imortalidade, a crença em produtos Deus, que se vendem na rede social. A realidade é dura, fria, crua, áspera e tem complicações, iatrogenias, suscetibilidades genéticas, resposta do meio ou do corpo ao que se introduz com a melhor das intenções. Assim surgem as pragas, as mortes incompreendidas, os efeitos adversos. Legalizem a prostituição, os casamentos múltiplos, a compra de dotes e a contradição, pelo menos reduz-se.