Opinião: O espaço pode evitar o próximo apagão
No passado dia 28 de Abril, Portugal enfrentou um apagão global que expôs a vulnerabilidade da nossa rede eléctrica. O apagão deveu-se a um desequilíbrio na rede ibérica, provocado por uma falha súbita na produção de energia, exacerbada pela forte dependência da energia solar.
O resultado foi um colapso em cadeia que deixou milhões de pessoas sem electricidade e revelou o quão frágil pode ser o nosso sistema energético quando pressionado. Também nos recordou do quanto dependemos da energia eléctrica para quase tudo na nossa vida quotidiana.
A tecnologia espacial surge como uma poderosa aliada para enfrentar estes desafios. Satélites equipados com sensores de última geração já são capazes de monitorizar, em tempo real, o estado das infra-estruturas eléctricas, detectando sinais de sobrecarga, falhas ou riscos ambientais — como tempestades iminentes ou vegetação a ameaçar linhas de alta tensão. A vigilância permanente a partir do espaço permite que os operadores antecipem problemas antes que se transformem em falhas graves, garantindo uma resposta mais rápida e eficaz.
Em Portugal, várias empresas estão a liderar esta revolução tecnológica a partir do Instituto Pedro Nunes, em Coimbra. A Spotlite, por exemplo, utiliza dados de satélite para antecipar riscos que ameaçam a rede eléctrica, como movimentos do solo ou vegetação excessiva. Já a OWLplaces fornece inteligência geoespacial para apoiar a localização de infra-estruturas de energias renováveis, promovendo decisões sustentáveis e resilientes face às alterações climáticas. A Open Cosmos, a mais recente a chegar ao IPN, opera satélites de observação da Terra que fornecem imagens de alta resolução para monitorizar activos críticos e responder a desastres naturais com maior eficácia.
Num futuro talvez não muito distante, a energia solar recolhida no espaço e transmitida para a Terra poderá tornar-se uma fonte resiliente e constante de electricidade. Esta tecnologia poderá garantir fornecimento energético estável mesmo em regiões remotas ou afectadas por desastres naturais, reforçando a resiliência da rede.
Estas inovações mostram como o espaço é cada vez menos território de ficção científica e cada vez mais uma ferramenta essencial para a sociedade. Ao usarmos dados espaciais para proteger as nossas redes eléctricas, conseguiremos não só evitar novos apagões, mas também desenvolver uma infra-estrutura energética mais robusta, capaz de enfrentar as alterações climáticas e as exigências de um futuro sustentável.
É fundamental que a juventude portuguesa se interesse por estas áreas emergentes. O cruzamento entre o espaço, a energia e a tecnologia é um terreno fértil para ideias inovadoras e carreiras com impacto real. A próxima geração de engenheiros, cientistas e empreendedores pode — e deve — liderar esta transformação. Porque o futuro da energia também passa pelo espaço.



