Opinião: Gestão
Um espaço onde cai a maçaneta da porta, onde a zona de sujos se confunde com os limpos, onde a janela range, a porta fecha mal e as mesas balançam. Um lugar de remendos, onde passa gente mal fardada, os utensílios avós a servir tarefas de precisão, onde as pessoas convivem com as infiltrações, os lavabos partidos, os quartos caducos, as camas irregulares. Estes espaços surgem da falta de investimento, da ausência de logística na manutenção.
A gestão moderna está cheia de soluções padronizadas que propõem soluções semelhantes para hospitais e conserveiras. Na base da gestão que não respeita, está sempre a baixa de salários, a redução de funcionários, o protelar pagamento a fornecedores, a escolha dos conflitos judiciais para retardar ou renegociar os contratos assinados. Sempre o lucro subtraído do prejuízo de outros. Veja-se o que foi a destruição dos bancos. Reduzir balcões, reduzir empregados, apostar em aplicações que convertem o cliente em funcionário que paga para trabalhar. Cada taxa cobrada por um gesto que eu faço é um processo esclavagista. Eu trabalho e eu pago pelo que acabo de fazer. Os gestores criativos neste sistema, aumentam as aberturas das bisnagas para elas deitarem mais quantidade, retiram fósforos das caixas e aumentam o preço, reduzem a qualidade dos materiais para se desfazerem depressa. É uma obsessão maligna pelos lucros onde já há conforto e qualidade de vida. Os impostos deviam educar e orientar mecanismos diversos destes. Taxar o lucro exorbitante, taxar os pagamentos a mais de seis meses ao fornecedor, taxar as subidas inexplicáveis de preço.
A construção do desmazelo é um processo pensado para preparar a venda, ou um mecanismo de hostilidade aos funcionários. Ninguém quer trabalhar onde as coisas se despedaçam, os computadores avariam, os clientes barafustam da espera e da falta de higiene.
Estes métodos de gestão estão nos livros e devem ser lembrados nas escolas para as crianças perceberem aquilo a que vão ser sujeitas enquanto funcionárias de alguém ou do Estado.
O que seria uma gestão criativa e interessante para premiar? A construção de produtos lucrativos, a construção de necessidades ou desnecessidade que o cliente escolhe, a valorização do empregado eficiente e gerador de clientes. Obviamente que nunca se pode deixar de lado a higiene e o bom gosto. A manutenção e a pirâmide de especialização dos funcionários faz parte de uma boa gestão. Dez médicos e dez enfermeiros não podem ser assessorados por dois auxiliares, como é comum em urgências hospitalares do SNS. Ranger, aquecer, abanar, não estar disponível são componentes da ineficiência, são desperdícios mecânicos.