Luso-belga, com selo
Seis meses depois, chegou a notícia: sou oficialmente belga. O e-mail da “câmara” chegou num dia de outubro, com a solenidade discreta das coisas importantes: “Temos a honra de a informar que adquiriu a nacionalidade belga em data de 24/10/2025. Em anexo, o acto de nacionalidade belga e a convocatória para solicitar o seu novo cartão de identidade”.
Fiquei genuinamente feliz com aquele e-mail. Não tenho regalias ou deduções fiscais, nada mais ganho do que o poder de voto e quiçá isenção de visto em mais alguns países. Mas para mim aquele email representou como uma recompensa pelos meus 17 anos de Bruxelas. Este país já era parte de mim, mas sou agora, oficialmente, parte deste país. A sensação é curiosa: não deixei de ser portuguesa (nem nunca o faria), apenas acumulei uma segunda nacionalidade.
Mas há um sentimento claro de coerência: vivo aqui, trabalho aqui, pago impostos aqui. Faz todo o sentido votar aqui, onde as decisões políticas têm impacto directo na vida que realmente levo. Sempre acreditei no dever de voto – daqueles valores que nos ensinam cedo e que tento praticar com alguma seriedade. Agora, esse dever ganha um toque belga: o voto é obrigatório. É uma cidadania com lembrete, digamos.
Há também um certo orgulho nesta etapa. Orgulho em pertencer a este país que me acolheu, com todas as suas complexidades, o seu caos organizado e a sua burocracia meticulosa. Mas sejamos justos: a Bélgica também se pode orgulhar de me ter agora nas suas fileiras!
E no fim, talvez seja isso que a dupla nacionalidade simboliza: não deixar de ser de um lugar, mas caber em dois. Porque o lugar onde nascemos é apenas o ponto de partida, mas os lugares onde vivemos e os lugares que deixámos são o que nos constrói.


