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A explosão da supernova SN 2024ggi

20 de novembro às 12 h05
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Certamente que já ouviram falar de estrelas que no final da sua «vida» explodem em supernovas. É até comum o equívoco de que quando terminarem as reações de fusão nuclear no nosso Sol este explodirá numa supernova. Mas isso não acontecerá. Só estrelas com mais de 8 vezes a massa do nosso Sol o conseguem fazer.

Sabemos hoje que a energia, a luz, das estrelas é produzida por reações de fusão nuclear que ocorrem no seu interior. Porém, só conhecemos o processo completo desde 1960. É absolutamente fantástico como as estrelas são as grande fábricas de elementos químicos do Universo. Por fusão nuclear, o hidrogénio consegue gerar hélio e o hélio consegue gerar carbono e oxigénio. O nosso Sol para por aqui, pois não conseguirá fundir nem o carbono nem o oxigénio. Mas estrelas de maior massa continuam o processo, onde o carbono gera oxigénio, néon, sódio e magnésio. Depois, o néon gera mais oxigénio e magnésio. O oxigénio gera silício, enxofre, fósforo e magnésio. Finalmente, o silício gera, principalmente, níquel, cobre e ferro.

Quando a fusão chega ao ferro, o processo para. Deixando de haver a gigantesca libertação de energia, que mantinha a estrela como uma bola em equilíbrio com a sua própria gravidade, a estrela cai sobre si própria num colapso. Visualizando: nós conseguimos manter um balão furado cheio enquanto continuarmos a assoprar, mas quando pararmos de soprar a força do elástico do balão vence e ele encolhe. Nas estrelas é algo semelhante, sendo a pressão da radiação, para fora, que se opõe à gravidade, para dentro. Deixando de haver pressão para fora… tudo colapsa. O colapso é tal que a pressão e a densidade levam mesmo a que protões e eletrões se juntem gerando neutrões e neutrinos de alta energia. Estes neutrinos, ao irem contra a onda de choque das camadas de fora da estrela ainda em colapso, geram, finalmente, a explosão da supernova. Nessa explosão, cria-se mais uma grande variedade de elementos químicos, entre eles, o cobre, o zinco, o ouro, a platina e o urânio.

A ideia de os neutrinos serem os responsáveis finais pela explosão da supernova foi proposta em 1966, tendo sido observacionalmente confirmada só em 1987. Mas uma outra grande dúvida persistia: qual a forma desta explosão? Explode numa esfera, numa explosão igual em todas as direções, ou nem por isso? Ora, de acordo com as observações recentemente realizadas da supernova SN 2024ggi, na galáxia NGC 3621, que se encontra a cerca de 24 milhões de anos-luz de nós, por uma equipa liderada por Yi Yang, da Universidade de Tsinghua, na China — uma das 10 melhores universidades do mundo —, parece que é mais nem por isso. Ou seja, a explosão é mais intensa em duas direções, opostas entre si, do que no resto, como a forma de um melão (em vez da de uma melancia).

Na nossa galáxia, a Via Láctea, com os seus 200 mil milhões de estrelas (mais coisa menos coisa), temos apenas uma supernova a cada 50 anos. Felizmente, conseguimos observar muitas outras galáxias com telescópios e podemos detectar de 200 a 300 supernovas por ano. Porém, quando as detectamos, quase nunca vamos a tempo de observar com mais detalhe os momentos iniciais da explosão.

Este trabalho, publicado na revista Science Advances, só foi possível graças à rapidez de Yi Yang, que conseguiu fazer uma proposta de observações rápidas com o poderoso telescópio VLT – Very Large Telescope do ESO – Observatório Europeu do Sul, localizado no Chile, 12 horas após ter detetado a explosão dessa supernova, que também foi rapidamente aprovada, conseguindo observá-la 26 horas após a sua deteção. Essa rapidez foi fulcral. E compreende-se facilmente também que é por Portugal ser membro do ESO que nos mantemos na vanguarda da astronomia mundial.

Autoria de:

Nuno Peixinho

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