Opinião: Segredos reais

No início do mês, o príncipe Laurent, irmão mais novo do rei Philippe da Bélgica, reconheceu publicamente que é pai de Clément, um jovem de 25 anos fruto da sua relação, nos anos 90, com a atriz e cantora Iris Vandenkerckhove (nome artístico: Wendy Van Wanten).
A confissão de Laurent não chegou por acaso. Surge pouco antes da estreia do documentário “Clément, Fils de…”, no qual o próprio Clément aborda a sua paternidade. Antecipando a exposição mediática, o príncipe optou por assumir: “Com esta mensagem, reconheço que sou o pai biológico de Clément Vandenkerckhove. Temos falado aberta e honestamente sobre isso nos últimos anos. Este anúncio é baseado num senso de compreensão e respeito pelos envolvidos. Peço que recebam esta informação com moderação. Não farei mais declarações.”
Casado desde 2003 com Claire Coombs, com quem tem três filhos, Laurent tenta agora fechar o capítulo, apelando à discrição. Mas o gesto ecoa inevitavelmente outro caso famoso: o da artista Delphine Boël, reconhecida, após longa batalha judicial, como filha do ex-rei Albert II. Mais uma vez, a monarquia belga vê as paredes do palácio atravessadas pela realidade contemporânea: testes de ADN, documentários televisivos e exigências de verdade pública.
Clément, por seu lado, já explicou que não procura privilégios nem títulos. “Toda a gente sabe quem é a minha mãe. Poucos sabiam quem era o meu pai. Eu quero apenas poder viver normalmente”, disse. E, no meio de tanta solenidade, deixou cair a frase mais simples e desarmante: “Quero apenas poder ir beber uma cerveja com o meu pai.”
Para quem está de fora, a sensação é duplamente curiosa. Primeiro, admiramos a calma institucional com que se passa de “filho ilegitimo” a “biológico”, sem mais alarido. Para o emigrante português, habituado a monarquias que vivem de revistas cor-de-rosa, a versão belga parece quase cómica na sua contenção: o príncipe pede silêncio, o filho pede apenas companhia para uma cerveja. Talvez esta seja, afinal, a forma mais belga de encerrar um escândalo – com discrição… e uma cerveja bem tirada.