Opinião: 3I/ATLAS um cometa de outro mundo!

A 19 de outubro de 2017, foi detetado pela primeira vez um objeto interestelar a atravessar o nosso sistema solar, tendo sido batizado com o nome 1I/’Oumuamua. O entusiasmo foi enorme. Estamos certos de que outros já o tenham feito, mas este foi o primeiro que conseguimos observar e ter a certeza de que veio de fora do nosso sistema solar, ou seja, que veio algures de uma região em torno de uma outra estrela na nossa galáxia.
Não demorou muito tempo até aparecerem teorias de que poderia ser uma nave espacial extraterrestre, um OVNI. Honestamente, seria muitíssimo mais interessante se tivesse sido, desde que viesse em paz, claro. Mas não era. Era um objecto, com o aspeto típico de um asteroide, mas formado bem longe daqui.
A 29 de agosto de 2019, for detetado o segundo objeto interestelar a atravessar o nosso sistema solar, batizado de 2I/Borisov. Este já apresentava o aspeto típico de um cometa, ou seja, ao se aproximar do sol sublimava os seus gelos libertando imensas poeiras, formando uma cauda.
Finalmente, a 1 de julho deste ano, foi detetado o terceiro, batizado de 3I/ATLAS. Claro que já voltaram a aparecer teorias de que poderia ser um OVNI. Mas já foi observados por vários telescópios, incluindo o Telescópio Espacial Hubble (HST) e o Telescópio Espacial James Webb (JWST), e apresenta o aspeto típico de um cometa, tal como o 2I/Borisov apresentava.
Porquê, então, tanto entusiasmo? Porque, na verdade, é uma rara oportunidade de poder estudar de perto algo que não se formou aqui e de podermos ver quais as semelhanças e quais as diferenças entres estes asteroide e cometas vindos de outros sistema planetários e os do nosso próprio sistema solar. Tudo indica que as leis da física são universais, ou seja, que são as mesmas quer aqui quer no outro lado da galáxia, ou mesmo numa outra galáxia qualquer. Mas o facto de serem as mesmas não significa que tudo seja igual. Os objetos vindo de fora do nosso sistema solar poderiam até ser muito diferentes dos que nós por cá conhecemos, mas formaram-se obedecendo às as mesmas leis. Ilustremos com laranjas.
Todos nós sabemos que as laranjas vêm da laranjeira e que quando estão a ficar maduras a casca fica cor de laranja. Se eu plantar uma laranjeira num porquinho mealheiro cheio de moedas, ela não vai crescer, pois precisa de terra para isso. Mas posso plantá-la em diferentes tipos de terra onde crescerá igualmente. Nuns casos talvez melhor, noutros talvez pior. Posso até plantá-la nos trópicos e descobrir que aí as laranjas, mesmo maduras, mantêm sempre a casca de cor verde. No entanto, as leis que governam o crescimento da laranjeira e a cor a sua casca são as mesmas, seja a laranjeira plantada aqui em Portugal ou numa estufa no planeta Marte. Em nenhum lado do Universo esperaríamos que um caroço de laranja rebentasse numa pipoca, levantasse vôo e emitisse uma música melodiosa em rádio FM.
O 3I/ATLAS pode até ser muito mais antigo do que tudo aquilo que se formou no nosso sistema solar. Melhor do que um«fóssil» do nosso sistema solar, o ATLAS é um«fóssil» daquilo que se formou bem longe de nós. Estamos habituados a ver a luz de uma infinidade de estrelas, à noite, sem pensarmos que o que estamos a ver hoje é já uma muito velha imagem dessa estrela, emitida há muito tempo e que só agora chegou até nós. Já meio habituados a ver sondas espaciais pousarem na Lua e em Marte. Mas termos aqui no meio de nós um bocado de uma coisa que se formou «sabe-se lá onde» na nossa galáxia é uma raridade.
E tal como com todas as raridades, temos de aproveitar bem a oportunidade de a poder ver e estudar pois não só é certo que esta não voltará como não é certo quando iremos ver novamente algo parecido. O ATLAS ainda se manterá dentro do alcance dos grandes telescópios até princípios de 2026. Depois disso… teremos de aguardar que a sorte nos presenteie com outra nos próximos anos.