Opinião: Espiritualidade química

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Toda a gente conhece o LSD, ou Dietilamina do Ácido Lisérgico. Os Beatles popularizaram-no, os Hippies fizeram largo uso dele, os psiquiatras dos anos 60 experimentaram-no em ambientes protegidos para melhor compreender os doentes psicóticos. Inicialmente obtido através da cravagem do centeio, foi sintetizado em 1954 pela farmacêutica norte americana Lilly e abundantemente distribuída a partir da Califórnia, o que marcou toda uma geração (a Beat Generation) pacifista e anti-sistema. Defendido por essa geração de ruptura, usado e abusado sem controlo e fora de ambientes protectores, logo o LSD apareceu como a causa de acidentes aparatosos que levaram ao seu descrédito e proibição.
Mesmo assim, o LSD não deixou de ser consumido, sobretudo em microdoses. Alguns criadores e cientistas notáveis, como Bob Dylan, Janis Joplin (para além dos Beatles) ou Francis Kricken (que, com Watson, ganhou o Prémio Nobel pela descoberta da estrutura helicoidal do ADN) admitiram que, no apogeu das suas carreiras, estavam influenciados pelo LSD. Na verdade, esta substância facilita uma maior flexibilidade mental (o que a torna indicada para o tratamento das perturbações obsessivo-compulsivas) e facilita a mudança. Nos últimos anos foram levantadas as restrições ao estudo do LSD, parecendo desde já um extraordinário facilitator das psicoterapias e auspicioso no tratamento da depressão ou mesmo de dependências, como a alcoólica. Mas o que mais tem impressionado os investigadores, são as experiências místicas dos consumidores, o que fez com que Aldoux Huxley (autor de O Admirável Mundo Novo e As Portas da Percepção) se fizesse injectar antes de morrer tranquilamente.
As experiências místicas são também conhecidas desde tempos milenares com a utilização de outras substâncias menos comuns mas agora também investigadas pela Medicina e Psiquiatria: a Ketamina (uma substância já conhecida e utilizada pelos anestesistas), o Ayahuasca, a Psiloscibina, a Mescalina, o Iboga, a Butofenina e outros produtos, encontrados em cogumelos (“mágicos”), na raiz de certos cactos ou no veneno de sapos. Diversos povos originários do continente africano e americano usavam estas drogas nos seus rituais religiosos, tanto quanto se pode datar em escavações arqueológicas, desde há vários milhares de anos antes de Cristo. Com a invasão dos Europeus, muitos destes rituais foram-se adaptando ao Cristianismo, mantendo embora o uso das drogas (aliás, permitidas nestes contextos) nos seus rituais contemporâneos.
O interesse da Medicina por estas substâncias confronta-se com os interesses da Indústria Alimentar e Farmacêutica, esta nascente na Alemanha durante a Segunda Grande Guerra, enquanto diversas drogas psico-activas eram experimentadas em militares nazis e seus prisioneiros. Neste momento, a Indústria Farmacêutica já se apoderou de algumas delas, como a Ketamina ou seus derivados, vendidas a preços exorbitantes. Mas diversas outras substâncias continuam a usar-se em numerosas combinações indicadas para variadas maleitas, que vão desde a tosse até às perturbações gastro-intestinais e génito-urinárias, sem esquecer a imunidade e a sua interferência nos carcinomas.
Até agora falámos das formas de obter rapidamente estados ampliados de consciência pela via química. Em qualquer destes casos, torna-se necessária a presença de um ambiente liderado por pessoas experientes, muitas vezes os próprios Xamãs. Porém, os mesmos estados podem ser obtidos, tanto espontaneamente (nos êxtases religiosos), como por outra prática milenar, também dirigida por pessoas experientes: as diversas formas de meditação introduzidas pelos Budistas.

Nota: Todas estas informações estão desenvolvidas num livro de Armando Soares, “Estados Ampliados de Consciência”, recém publicado pela Editora Zéfiro.

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