Opinião: Em Coimbra não se passa nada, nada, tudo!

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Este mês de Maio será, com certeza, um dos mais ativos e intensos das últimas décadas, em Coimbra. Para além da tradicional Queima das Fitas, irão ter lugar muitas outras atividades culturais, desportivas, académicas, de cidadania, etc. Desde grandes acontecimentos, onde irão participar dezenas de milhar de pessoas, a eventos de nicho.
A música será o centro das atenções, devido aos Coldplay, mas não se esgota nesses quatro mega-eventos, havendo concertos de Jorge Palma, dos Birds are Indie, do Festuna – Festival Internacional de Tunas, e das calorosas Noites do Parque, com Ivete Sangalo como cabeça de cartaz. Em termos desportivos, salienta-se a Regata Internacional da Queima das Fitas, o último jogo da AAC/OAF (já com objetivos atingidos, numa época atribulada), e o Rally de Portugal (com cerimónia de partida em Coimbra e uma etapa super especial na Figueira da Foz). Em termos académicos e empresariais, o relevo vai para o Be Insight, um dos maiores eventos de marketing em Portugal, que contará com uma palestra do “pai” do marketing moderno Philip Kotler. A sociedade e a cidadania também estarão em destaque, com a exposição dos 50 Anos do Expresso, o movimento Kidical Mass, e o evento Coimbra Circular 23.
Neste artigo apresento uma reflexão sobre como é que estes eventos, cada um à sua maneira e à sua escala, poderão dar um contributo importante para o futuro. Vou focar-me nos menos mediáticos, pois dos outros já muito se tem dito e muito se irá continuar a falar.
No passado dia 7 de Maio, teve lugar o primeiro evento Kidical Mass em Coimbra. Este encontro reuniu mais de uma centena de pais e crianças a pedalar pelas ruas de Coimbra, desde o Centro Escolar Solum Sul até ao Parque Verde. O objetivo foi alertar para a necessidade de tornar as ruas mais aptas para os ciclistas e os modos ativos de mobilidade – em particular, para que os nossos jovens se possam deslocar diariamente para a escola, em bicicleta, de forma segura e autónoma.
Tive oportunidade de testemunhar, em primeira mão, o sucesso que foi este evento – o primeiro, em Coimbra, deste movimento global Kidical Mass, que já ocorreu em mais de 500 cidades. Em países europeus com índices de felicidade e de desenvolvimento superiores aos de Portugal, é habitual as crianças (acompanhadas pelos pais) e os jovens (em grupos de amigos) irem para a escola de bicicleta. As vantagens são claras e estão cientificamente documentadas, desde a saúde física, ao bem-estar e à sustentabilidade. Para além disto, os jovens adquirem, progressivamente, um maior sentido de liberdade e de responsabilidade (que essa liberdade implica). Isto só é possível porque há já algumas décadas que estas cidades europeias se têm vindo a transformar para que estes percursos possam ser efetuados em segurança. Em Coimbra, como em todas as cidades portuguesas, isso ainda não acontece. É fundamental dar início a esta transformação urbana e de mentalidades; e não há melhor forma de começar do que pelas crianças e pelas suas deslocações diárias para a escola. É preciso uma rede de ciclovias abrangente, com corredores verdes e que reduza o risco de atravessamento das interseções viárias.
Este desígnio está absolutamente alinhado com o posicionamento da marca Coimbra, enquanto cidade moderna com boa qualidade de vida. Acresce que esta visão, de uma Coimbra ciclável e verde que proporciona um estilo de vida idêntico ao das melhores cidades europeias, em conjugação com a digitalização e o trabalho remoto, tem o grande mérito de poder contribuir para o regresso de inúmeras famílias de jovens portugueses que, na última década, se viram forçados a emigrar. Este fluxo de retorno às origens já está a acontecer e entre os participantes no Kidical Mass Coimbra identificavam-se algumas destas jovens famílias que ambicionam poder viver em Portugal com a mesma qualidade com que viviam no estrangeiro. Quem diz Coimbra, diz Figueira da Foz, Cantanhede, etc., cidades em que esta visão seria também passível de implementar. Isto pode (e deve!) ser feito em conjunto com a revisão das Cartas Educativas municipais.
Destaco também o evento Coimbra Circular 23, que terá lugar no Exploratório (Parque Verde do Mondego), no próximo fim-de-semana de 12 e 13 de Maio. Destinado a promover a sustentabilidade e a economia circular, irá oferecer palestras, workshops e um “mercado do amanhã”, com bens de produção consciente e sustentável. A Universidade de Coimbra associou-se a este evento e, entre outras atividades, vai realizar a cerimónia final de apresentação dos projetos e de atribuição dos prémios do concurso de ideias de negócio “Sustenta UC”. Este evento, ainda de nicho, está perfeitamente alinhado com a visão estratégica da Universidade de Coimbra e de toda a Região de Coimbra.
A sustentabilidade, a economia circular e a qualidade de vida constituem, de facto, pilares fundamentais da identidade de Coimbra e da sua região, a par da economia do conhecimento e da ligação à lusofonia. A este propósito, proponho ao leitor que redescubra o artigo “Coimbra, a cidade que marca mas não tem marca” (https://www.asbeiras.pt/2021/10/opiniao-coimbra-a-cidade-que-marca-mas-nao-tem-marca/).
Passo a passo, com os mega-eventos mediáticos e os eventos de nicho, irá com certeza promover-se a renovação da identidade de Coimbra e o reforço da sua marca. A quem desconhece Coimbra e se houve dizer “Em Coimbra, não se passa nada”, é caso para responder, ao sabor da boa tradição académica que, “Em Coimbra não se passa nada, nada, nada? Tudo!”.

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