Opinião – O culto às Sakura

Posted by
Spread the love

Vivemos tempos primaveris em Tóquio e as Sakura, este ano, vieram mais cedo. As cerejeiras em flor têm uma importância especial, diria quase mística, na cultura local e são uma das principais atrações turísticas do país.
Acredita-se que o seu culto começou durante o Período Nara ( 710-794 ), altura em que eram cultivadas na China e foram para aqui trazidas como planta ornamental. As primeiras surgiram justamente em Nara, antiga capital, e rapidamente se tornaram conhecidas.
Com o tempo, a sua admiração tornou-se uma estética nacional e desenvolveu-se num evento anual conhecido como hanami, que significa “contemplação das flores”. Durante esta época, é habitual as pessoas reunirem-se sob as árvores floridas para fazer piqueniques, beber e apreciar as mesmas. O hanami é considerado uma celebração da primavera e um momento para agradecer a beleza da vida, refletir sobre a impermanência e a renovação da natureza após o inverno.
Como por aqui pude constatar, Tóquio é um dos melhores lugares para as ver e alguns dos mais emblemáticos incluem o Parque Ueno, o Jardim Nacional Shinjuku Gyoen, o Parque Yoyogi e o Santuário Meiji. Para além da capital recomendo as cidades de Quioto (toda a zona dos templos e santuários da era Heian), Hiroshima (Parques do Castelo e Memorial da Paz), Kanazawa (Parque Kenrokuen) e Osaka (Parque do Castelo e a área do rio Yodo).
Surpreendentemente, a ligação entre as Sakura e o nosso país remonta ao século XVI, quando os portugueses chegaram ao Japão, trazendo consigo novos costumes e tecnologias. As árvores eram desconhecidas no Ocidente até que um missionário jesuíta, Gaspar Vilela, as descreveu em detalhe numa carta enviada para a Europa. Para um olhar português, a sua característica mais distintiva é que não dão cerejas, como as nossas do Fundão ou de Resende, limitando-se, pois, a sua função à mera decoração e leve fragrância que liberta com os últimos sopros do inverno.
A partir daí, ganharam popularidade em todo o mundo, tornando-se um verdadeiro símbolo da cultura nipónica. Nos dias de hoje é, aliás, perfeitamente possível encontrá-las no Jardim Botânico da nossa querida Coimbra, no Jardim do Palácio de Cristal, no Porto ou no Parque da Cidade, em Lisboa.
Aprendamos com os japoneses e as suas Sakura a celebrar a vida de todas as maneiras possíveis, caros leitores, seja fazendo algo que gostamos, uma viagem, apreciando a natureza, ou compartilhando momentos com as pessoas que amamos. Sendo a vida tão efémera quanto as Sakura em flor, aproveitemos cada momento com alegria e gratidão.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.