Catarina Ferreira: “Sem investir, hóquei feminino não tem futuro”

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Como é que recebeu a notícia da nomeação para Atleta do Ano?

Fiquei surpreendida e, naturalmente, muito contente. Curiosamente, só soube da notícia porque me foi enviada por um amigo, que foi o meu preparador físico nos anos em que estive a jogar no Sporting e com quem, ainda hoje, mantenho amizade e contacto frequente.

Surpreendida, porquê?

Porque o hóquei em patins feminino está longe, ainda, de ter a visibilidade de outras modalidades, em Portugal. É claro que, em comparação com o que já foi, o hóquei está hoje muito melhor, mas continuo a dizer que são precisas mais equipas e é preciso também que os clubes acreditem e invistam mais, ou seja, que não olhem para o hóquei em patins feminino como uma despesa. Aliás, temos em Portugal um bom exemplo, este ano, que é o Turquel, onde, apesar de ser uma aldeia, existe uma paixão pelo hóquei em patins que é muito invulgar.

O seu último clube, em Portugal, foi o Sporting que optou por desinvestir no hóquei feminino…

É verdade. Fiquei muito triste, claro. Para mim, os clubes chamados grandes, como o Sporting e o Benfica, e até o Porto, deviam apostar na visibilidade natural que têm, enquanto instituições e enquanto grandes clubes desportivos com grandes equipas de hóquei em patins e milhões de adeptos, para propagar ao hóquei em patins feminino. Agora, se acontecer o contrário, ou seja, se a palavra de ordem for desinvestir, todos perdemos.

O que falta à modalidade para crescer?

Falta esse investimento de que falo. Mas o que me parece realmente decisivo é a presença do hóquei feminino no universo multimédia. É preciso que haja mais transmissões de jogos, de preferência pela televisão mas também pela internet. Basta ver o que acontece, aqui, em Espanha, onde praticamente todas as partidas – sim, estou a falar para aí de 90 ou 95 por cento dos jogos da 1.ª Divisão – podem ser vistas, seja no Esport3 (canal do grupo TV3, da Catalunha) seja em inúmeros canais do YouTube ou mesmo do Facebook. Aliás, já houve um jogo nosso que estava a ser transmitido em direto só com recurso a um telemóvel… Para além disso, para nós que estamos fora, e também para todos quantos gostam de hóquei, poder acompanhar o campeonato português seria uma mais-valia. Eu noto isso ainda mais quando sei quanto os meus familiares e amigos gostam de saber dos meus jogos.

Entretanto, mudou-se para Espanha, mais precisamente para Gijón. Fale-me da cidade e do clube.

A cidade é pequena, enfim um pouco maior do que Coimbra, tem praia mas é mais fria do que aí em Portugal. Vivo num apartamento, com outras atletas do clube, em Gijón. Atualmente, estamos na 3.ª posição da tabela da principal Liga Espanhola, apenas a quatro pontos das líderes, as catalãs do CP Vila Sana onde joga a guarda-redes portuguesa Sandra Coelho e que, curiosamente, são as próximas adversárias da nossa equipa, já a 14 de janeiro.

Como é jogar nas Astúrias e disputar um campeonato em que 12 das 14 equipas são catalãs?

Aqui, nas Astúrias, nós somos o único clube na 1.ª Divisão. Por isso, de duas em duas semanas temos de viajar. O adversário mais próximo que temos é na Galiza, o Liceo da Corunha, e mesmo assim são três horas de viagem. Para a Catalunha, são sempre 10 horas ou mais para cada lado. As minhas colegas já estão habituadas mas eu nem por isso… Em Portugal, as viagens mais demoradas eram de três horas.

Para si, isso é um obstáculo?

Nada disso. Até agora, para mim está tudo bem, até porque gosto de viajar e de conhecer coisas novas. Mas as minhas colegas já me avisaram que isto cansa.

Há muitas estrangeiras no plantel?

O clube já teve algumas estrangeiras, inclusive argentinas. No entanto, no plantel deste ano, só eu e a guarda-redes [Fernanda Hidalgo, internacional chilena] somos estrangeiras. Todas as outras são espanholas e, mais, são mesmo aqui das Astúrias.

Como é que surgiu o convite para o Gijón?

O primeiro contacto aconteceu ainda eu estava no Sporting. Na altura, quem falou comigo foi o Fernando Sierra, que era então o treinador do Gijon e é, hoje, diretor. O mundo do hóquei em patins feminino é muito pequeno e todos nos conhecemos. Para além disso, a ida à seleção é sempre um momento decisivo na nossa carreira e dá-nos uma visibilidade muito grande.

Qual a duração do seu contrato?

Para já, é de apenas um ano. Mas não tenho qualquer dúvida de que, se me convidarem, aceitarei de imediato continuar.
Quem é o seu ídolo?
Há muitas pessoas com quem joguei, ao longo dos anos, e com quem me identifico. A mais marcante, talvez por eu ser muito nova, foi a Catarina Costa, no Arazede, de quem sempre gostei pela forma como organizava e comandava o jogo, fazendo que tudo passasse por ela…

É assim que gosta de estar na quadra?

Eu também sempre gostei de pensar o jogo, sempre preferi dar a marcar do que marcar. Mas, curiosamente, aqui em Gijón, estou a jogar mais à frente do que jogava, por exemplo, no Sporting.

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