Opinião: “Regressando ao tema urgente”

Posted by
Spread the love

O que está errado no serviço nacional de saúde que conduz as pessoas a salas pejadas de gente, a corredores com várias filas de camas, a utilização de poucas portas de entrada no sistema e sobrecarga de alguns serviços? A primeira razão é a pobreza mental e monetária. Se fossem ricos e com alternativas credíveis não iam! Mas é um problema transversal. Vem dos hábitos e do estilo espertinho: tenho direito, quero ser visto hoje, sei que há triagens, uso a ambulância mesmo que pudesse ir a pé. O meu sobrinho é bombeiro, não pago a ambulância, vou pedir que me leve. Raciocínios de esperteza saloia que se anexa ao sofrimento maior ou menor.
Não acho que vá à urgência quem não precise, mas acho que há muita gente que não tem outro lugar para onde recorrer, pois fecharam-lhe inúmeras portas. Existe também a ansiedade projectada das histórias hiperbolizadas na comunicação. E se? Pode ser isto? Será grave? Há também a desresponsabilização de médicos, enfermeiros e familiares. Não dou dois pontos, não faço o penso, não é da minha responsabilidade, não é da minha competência. Mas têm para dar palpites e avaliar o trabalho alheio! Será porque falta um mínimo de formação escolar em como solucionar problemas menores? Um pequeno corte, uma pequena ferida, uma pequena queimadura? Será porque os lares abusam do SNS para respeitar a funcionalidade de médicos a quem pagam e não ousam incomodar? Será porque se alterou a tipologia dos cuidados continuados de modo a ficarem sem qualquer resposta emergente ou urgente? Assim se vai processando o funil que leva tudo a Sta Maria, S. João, Almada, HUC, Gaia, Sto António. O SNS e sobretudo as urgências dos grandes hospitais atendem hoje um doente a cada vinte segundos, de noite e de dia. Mas era assim em 2018 e já vinha a ser desde que as reformas de Correia de Campos falharam, os erros de opção de Paulo Macedo se perpetuaram, a falta de foco de Marta Temido se acentuou. As escolhas das lideranças olham ao partido e não à frontalidade e capacidade de mudar. Personagens ineptas perpetuam-se nos seus postos de onde não se decide, não se interroga, não se avalia.
O problema nem sempre está no utilizador, está sobretudo em falta de educação para a saúde, num foco dirigido à saúde e não à doença, numa organização para perceber as causas da super valorização das urgências. Se a consulta específica tem uma espera de dois anos, onde querem que eu leve a minha dor? Se o Serviço não tem atendimento, a quem me queixo? Elencar prioridades, definir orçamentos para resolução de problemas, mudar lideranças que não ajudam, construir caminho é o que se pede a quem se oferece para conduzir as reformas. As pequenas coisas obrigam a encaminhamentos, a sequenciar procedimentos e respostas. Tudo isso está em falta. E é triste ver um diretor de urgência recentemente escolhido/nomeado dar uma entrevista sem soluções e com muitas queixas. Posso falar porque eu concorri, eu apresentei soluções, eu tinha respostas.

Pode ler a opinião de Diogo Cabrita na edição impressa e digital do DIÁRIO AS BEIRAS

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.