Opinião: O conforto da inutilidade

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Dizem que Portugal continua a ser governado não pelos marinheiros que arriscaram novas rotas nos descobrimentos, mas por todos os que ficaram por cá… no comodismo de um medo incapacitante e inútil.
Os tempos são outros, os mares e as rotas são outras, mas o desafio permanece – quanto arriscamos para além da evidência?, quanto nos comprometemos para além da nossa zona de conforto?, quanto sonhamos para além do suficiente?…
Corremos o risco de ‘perder’ o grande dom da vida, de nos contentarmos com pouco, de ‘ficar a observar a vida da varanda’ ou de ‘confundir a felicidade com um sofá’ (Papa Francisco, Cristo Vive, 143 ).
Já o Fernando Pessoa tinha dito na mensagem: “Triste de quem é feliz! / Vive porque a vida dura. / Nada na alma lhe diz / Mais que a lição da raiz — / Ter por vida a sepultura” (O quinto império). Linhas mais à frente, concluiu o poeta: “Ser descontente é ser homem”.
Há qualquer coisa de ‘desassossego’ neste texto, nesta visão e nesta provocação. Existir é viver do desejo de fazer caminho, arriscar outras margens, sonhar um mundo mais fraterno e justo, mais solidário e humano.
Nestas palavras gostaria de homenagear todos (todos é todos – independentemente de cores e tamanhos), todos os que dão de si na causa política e social, nas associações e instituições… homens e mulheres que se colocam ao serviço.
Muitos ficam apenas do lado de fora, a criticar e a denegrir… à espera de erros e falhas, de fragilidades e limitações. Mas a pergunta é: o que estou a dar ao meu país, à minha cidade, à minha comunidade, à minha empresa/Instituição, à minha família?
Há um lugar cómodo onde todos somos heróis: na bancada, na varanda, no sofá, à trás de um ecrã, ‘escondidos’ no perfil…
Claro que não sou inocente e sei que alguns dos que andam por aí apenas se querem mostrar e querem aparecer, alguns procuram apenas o protagonismo de um lugar para ‘resolver’ o seu desejo de poder e de autoafirmação.
Ilusões de uma imaturidade que não tem idade e que revela a pequenez dessas ‘grandiosidades’. É tudo muito mais passageiro e frágil. Somos apenas um pedaço de história num pedaço de tempo.
Precisamos de mais ‘homens e mulheres descontentes’ e sonhadores, honestos e dedicados… capazes de compromissos grandes e mobilizadores. Precisamos de pessoas assim da sociedade em geral e na Igreja em particular. Precisamos de pessoas ‘desassossegadas’.

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