Opinião – Prata da Casa – delete

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A propósito de um almoço com a minha mãe e o Vasco Queiroz que juntos perfazem 185 anos cheios de vitalidade e de intelecto limpo e fresco, pensei na memória. O arquivo de depoimentos de gente madura que não se faz e que deixa Portugal mais pobre. O Vasco detalha com pormenor a viragem ou a voragem que levou a Marconi a passar por TMN e depois ser travestida em PT, ainda PT/Meo e recentemente a mudança de sexo para Altice. Voltarei aqui, mas hoje decidi falar da Prata da Casa que foi um programa da RTP e onde tive modesto contributo, ajudando um naipe de talentosos jovens de Coimbra: Luís Arnaut, Margarida Lima, Maria João Seabra, Paula Costa Neves, Paula Cabrita, Filipe Arnaut, Paulo Filipe Monteiro, José Simas Simões (falecido no início dos anos 90 ), José Manuel Pureza, Anibal Moreira a defrontarem um não menor grupo de talentos de Aveiro: Alfredo Abreu, Ana Cristina Aveiro, António Manuel, António Peres, Cristina Borges, Isabel Andrade, Jorge Batel, Maria Luisa Frasão terminando com uma vitória de Aveiro por KO técnico, decidido em votação de provas como o melhor gato trazido ao programa. Já o PAN daria seus primeiros passos em 1980? No júri destacava-se o intelectual Fernado Ribeiro de Mello ( 1941-1992 ) acutilante, provocador, extravagante. A este júri também estiveram ligados Alexandre O´Neill, Branquinho da Fonseca.

Escrevemos a pedir uma cópia do program aos arquivos da RTP em 1990 de que não houve resposta, insistimos em 2008 e após prolongada espera – mais longa que qualquer consulta médica – 11 anos, recebemos a sentença: isso foi tudo destruído. Ficámos a saber que a RTP nos seus arquivos destruiu a Cornélia, a Prata da Casa e muitos outros programas. Mas porquê? Foram políticas de direcção! Há gente que apaga as memórias que lhe são confiadas! Há pessoas que entendem que o arquivo é lixo, o lugar da história é a azul, amarelo ou verde. Eu que sou de não colecionar, de não juntar, de não empilhar objectos, eu que tenho tendência não colecionista, mesmo eu percebo o que é a memória, compreendo que a história que envolve terceiros deve ser-lhes confiada. Podiam ter oferecido aos participantes se o espaço de arquivo era problema, podiam ter dado, mas apagar, fazer desaparecer é um sinal da doença ditatorial que existe em inúmeros tipos que decidem e que têm por momentos a capacidade de gerir por nós. Um imbecil que foi nomeado por outros, num tempo de poder de medíocres decisores decidiu apagar a memória única da RTP e nós não somos informados, os portugueses são delapidados sem o saber. Como se o director da PT apagasse a Marconi, o da Altice fizesse delete da Meo e da TMN.

Imaginem se chegava esta força de varrimento aos tribunais e aos arquivos das Universidades. Já agora o novo presidente do Montepio para limpar histórico enviava para a escuridão os empréstimos.

Deixo-vos com o pouco que sobra, de filmes de gente que gravou e registou para sua memória pessoal.

 

Diogo Cabrita escreve ao sábado, semanalmente

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