Opinião: A inclusão é mudar os nomes às coisas

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Os países mais atrasados como a América e a Inglaterra continuam a não saber gerir a educação das crianças com graves problemas de aprendizagem. É por isso que continuam a ter milhões de crianças com incapacidades e deficiências, que lá chamam desabilidades. E vai daí poem-lhes nomes feios. Se virem a lei dos americanos, que eles acham que foi uma boa IDEA (Individuals with Disabilities Education Act) são milhões de crianças incapacitadas, millions of children with disabilities. Um horror.

É por isso que eles ainda têm um Departamento ministerial só para a Educação Especial, coisa que nós já não precisamos porque temos tudo incluidinho sem tirar nem pôr. E depois usam nomes ofensivos para a autoestima das crianças, como autismo, surdocegueira, surdez, perturbações emocionais, incapacidades intelectuais, e têm especialistas para isto tudo, que desperdício. Até há pouco tempo até ainda tinham atrasados mentais, mental retarded, mas deram-lhes um tratamento especial e agora só têm incapacidades intelectuais, que é muito diferente. Aquilo que nós chamávamos DID antes da inclusão, dificuldades intelectuais e desenvolvimentais, mas agora já nem disso precisamos, estamos muito à frente.

Os ingleses têm mais tento na língua, têm vergonha das palavras obscenas dos americanos, mas também têm desabilidades e NEE’s, que eles chamam SEND, como se pode ver na lei deles, The Special Educational Needs and Disability Regulations 2014, e no guião que tem um nome mais comprido que as nossas rainhas e duquesas, Special educational needs and disability code of practice: 0 to 25 years Statutory guidance for organisations which work with and support children and young people who have special educational needs or disabilities… 2015…, até me falta o ar. E se virmos os acrónimos que eles usam para as desabilidades todas é uma lista enorme, ainda mais longa que a dos américos. Só surdos tinham mais de 41.200, mas têm de todas as marcas, cores e feitios, cegos, autistas (…). Traduzindo, o que não lhes falta são deficientes e incapacitados, mesmo quando têm vergonha deles.

Nós temos as melhores escolas e os melhores professores do mundo, como diria o Professor, e então alunos nem se fala, deficientes nem um. Isto foi o resultado de políticas educativas muito bem pensadas desde 1823, que foi quando começou a EE, agora defunta, que erradicaram os “desabilidosos” do sistema educativo, uma estratégia que nós usamos melhor que ninguém. E qual é a estratégia? Simples: se não conseguimos mudar as coisas, mudamos os nomes às coisas. É assim que fazem os políticos. Trigo limpo, farinha amparo.

Ora vejam: em 1923, o ministro João Camoesas, ainda tinha anormais, idiotas, imbecis, atrasados mentais…, acho que não estava a pensar só nos alunos e nas escolas; cinquenta anos depois, Veiga Simão, Lei 5/73, já só tem crianças deficientes e inadaptadas; em 1991, DL 319/91, já só havia alunos com necessidades educativas especiais; com o DL 3/2008, as necessidades educativas especiais não são pra todos, só prós alunos com limitações significativas ao nível da actividade e da participação, respira fundo, num ou vários domínios de vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação, da aprendizagem, da mobilidade, da autonomia, do relacionamento interpessoal e da participação social, tendo por objetivos a inclusão educativa e social, o acesso e o sucesso educativo (…), descansem um bocadinho, tudo coisas que os ingleses e americanos diriam com uma única palavra – disabilities; mas o milagre só se dá com o DL 54/2018 que acaba com insultos, deficiências e todas as limitações e estabelece os princípios e as normas que garantem a inclusão (…) de todos e de cada um dos alunos, e identifica as medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão. É o decreto das medidas, de todos e cada um, se calhar de nenhum.

Esconderam os deficientes ou desapareceram? Bem, ou o milagre da inclusão curou todas as deficiências, incapacidades e limitações, ou as pessoas passaram a chamar-se medidas, universais, seletivas e adicionais, as três categorias para o universo de todos os alunos. Todos. Muita gente pra tão poucos nomes. Tudo a monte e fé em Deus. Foi outra vez o milagre das rosas, que transformou os deficientes em medidas, sempre é melhor. Vejam só o que se poupa em médicos especialistas e professores especializados se não há deficientes. Mas o ministério é finório, acha que é que com papas e bolos que se enganam os tolos. Mas eu acho que se eles fizeram desaparecer a educação especial é porque precisavam dela para alguma coisa que não querem que se saiba o que é. Pode ser que resulte e que lhes faça bom proveito!

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