Opinião: Falhas honestas e as outras

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Aires Antunes Diniz

Todos nós somos confrontados com falhas próprias, ocasionadas por faltas de tempo, que nos levaram a pressas ou a deixar de fazer algumas tarefas que considerámos erradamente como acessórias. Contudo chega o tempo em que fazemos o mea culpa e corrigimos estas falhas, tal como o confessa Lopo de Carvalho em 1894:
“Faltou-me o tempo para observações mais persistentes e continuadas que o assunto reclamava, e certamente não teria falado na morfologia deste bacilo, se posteriormente a este meu trabalho eu não tivesse encontrado mais um ponto de contacto neste modo de ver as sucessões morfológicas com a opinião emitida pelo meu ex-professor Dr. Augusto Rocha no relatório sobre a Investigação do «bacillus typhicus» nas águas potáveis de Coimbra.”
Contudo, antes um Ministro de Estado, que não identifica, tinha extinguido o gabinete de microbiologia do sanatório da Serra da Estrela, causando deliberadamente dessa forma algumas das falhas científicas que iam permitir a persistência das epidemias de febre tifoide na região a que pertenço, incluindo na minha aldeia e outras que lhe são próximas. Também, o ex-professor de Lopo de Carvalho, Augusto Rocha, tinha sido obstaculizado por colegas na criação de laboratório de microbiologia na Faculdade de Medicina de Coimbra, explicando assim a persistência de febre tifoide no bairro coimbrão onde se alojavam nesse tempo os estudantes, o que deve ter sido um bom exemplo científico de má gestão da coisa pública.
De facto, multiplicavam-se também então doenças que depauperavam a saúde dos trabalhadores e provocavam miséria associada a uma enorme mortalidade infantil.
Esquecido nas estantes da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, ao ler este relato e ao publicitar estes maus exemplos, tornando mais uma vez novidades as coisas antigas, como ensinava o médico Manuel Bento de Sousa, participo modestamente na prática de uma Pedagogia Social ativa, que completa a Escola e incentiva à cidadania.
No nosso tempo, esquecidas que são estas epidemias, há algo que apela à nossa consciência crítica. É a poluição dos nossos rios e demais cursos de água, destruindo riquezas agrícolas e, até, turísticas já que as lixeiras ao longo deles. É o caso do Rio Douro, cujas margens poluídas são uma vergonha que afasta os viajantes do nosso convívio. E, pior ainda, que estes, tirando fotos e selfies, mostrando assim que estiveram lá, fazem uma publicidade negativa ao nosso país.
Combatamos por isso as falhas desonestas e corrijamos as nossas falhas, afastando tudo o que nos faz provocá-las e alertando acerca dos que persistem em percorrer os caminhos dos erros por má cabeça ou por mau caráter.
1 Lopo de Carvalho – Uma epidemia de Febre Tifoide no Concelho da Guarda, Tipografia do Distrito da Guarda, Guarda, 1894, p. 60.

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