Opinião: “Winter is coming” – Eis o fatal inverno à nossa porta

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Joaquim Amândio Santos

Joaquim Amândio Santos

Hoje sopro 52 velas.

O dia do nosso aniversário intensifica a nossa relação de amor/ódio com o tempo.

A idade presenteia-nos com experiência, sabedoria, distanciamento e capacidade de análise. Pelo menos, almejamos que assim seja.

O dobrar dos 50 corresponde, hoje em dia, ao ritual de passagem entre o nosso verão e o nosso outono, com as brancas a assumirem o papel das folhas caídas e as rugas a homenagearem os sulcos lamacentos das primeiras chuvas. A nostalgia é em nós crescente com o andar dos tempos mas, a mim e a muitos mais, o que realmente preocupa é para onde corre o mundo.
Titulei este escrito com a frase mais marcante da saga televisiva de fantasia medieval “Game of Thrones” que, assume hoje a primazia no impacto mundial entre os produtos televisivos de ficção.

Na saga da HBO o advento do inverno é sinal de guerra, fome, destruição e morte, assistindo-se a um desenrolar frenético de conspirações, assassinatos, guerras e outras sevícias apocalípticas nascidas da ambição desmedida dos homens.
Mas a realidade suplanta, no perigo e nos desmandos, qualquer ficção. Vivemos tempos que já passaram a fronteira do angustiante.

O mundo idílico de progresso, riqueza crescente e distribuída, paz e concórdia, parece aproximar-se de um fim inglório. A crise de valores, a crise económica, a fraqueza crescente dos regimes democráticos, os ódios xenófobos, religiosos e étnicos e a fragilidade mortal do sistema democrático, consumido por dentro, mercê da corrupção de quem governa e da falsa riqueza que descambou em dívidas particulares e coletivas impagáveis, são o caldo perfeito para o advento dos nacionalismos radicais e para o aparecimento de figuras tutelares que se assumem como líderes predestinados, pouco dados a consensos, cedências ou respeito pela democracia.

E não começou com Donald Trump, embora ver na Casa Branca um xenófobo, racista, desmedido, autoritário, sexista e pronto para, como faz na sua vida social e empresarial, mandar às malvas a prudência e o consenso, nos crie arrepios na espinha e os mesmos não são exagerados.

Do apoio do Klu Klux Klan aos lobbies das armas e do armamento de guerra, passando pela escolha já anunciada de supremacistas brancos para lugares-chave da administração americana, sopram ventos assassinos para a paz, lá para os lados de Washington.

A Rússia tem em Vladimir Putin um verdadeiro Czar absolutista para quem assassinatos ou aprisionamento de opositores, invasão de estados soberanos ou apropriação de bens privados, são armas legítimas e das quais se orgulha. Entre ele e Estaline nem o diabo se atreveria a escolher.

Recep Tayyip Erdoğan, dono e senhor da poderosa e (pouco) laica Turquia, aproveitou um hipotético golpe de estado para proceder a uma purga que já atirou para os calabouços centenas de milhares (leram bem…) de jornalistas, professores, funcionários públicos e militares, não escondendo estar de faca nos dentes para invadir países vizinhos e para eliminar quem se ponha no seu caminho.

Bem aqui mais perto, antecipou-se à viragem à direita americana o “Brexit” que nasceu, cresceu e venceu muito por culpa/mérito de Nigel Farage e do seu UK Independance Party. Aqui começou o descalabro europeu.

A Hungria, país da União Europeia, é governada por ultraconservadores que criminalizaram os sem-abrigo (!) e perseguem os refugiados e imigrantes. Há mesmo quem fale por lá na criação de campos de concentração…

A Bulgária e a Polónia, também países ainda da (des)União estão lá perto e as trancas nas fronteiras fazem parte da agenda.

Em França, Marine Le Pen tem reais possibilidades de colocar a Frente Nacional no poder, nas próximas eleições presidenciais. Soma-se a mesma possibilidade para os neonazis triunfarem na Áustria e crescerem até números assustadores na Alemanha e nos países bálticos.

Até em Portugal, por mais timidez numérica que se atribua aos 24 mil votos do PNR nas últimas legislativas, o partido cresceu 10 mil em relação ao sufrágio anterior e não pregam propriamente a paz e a concórdia entre povos e raças.

Some-se o terrorismo radical islâmico, cada vez mais sem fronteiras, o desemprego crónico crescente nos países mais ricos, a fome em largos territórios do terceiro mundo, os crescentes movimentos migratórios dos sem-nada e a fobia de quem ainda vive na Europa perante esta invasão humanitária e começamos a rever o que presidiu à década de 30 do século passado e ao despoletar do conflito dos conflitos que matou mais de 50 milhões de pessoas na década seguinte.

Ao advento destes senhores absolutistas parece tristemente que a democracia mais não tem do que fracos, covardes e pouco sérios líderes, uns vendidos ao soldo de quem dá mais, outros rendidos à míngua de capacidade para liderar e poucos preparados para impedir a tempestade perfeita.

Se ainda nos parece longínquo, improvável, mesmo inconcebível, o rufar dos tambores de guerra, estão cada vez mais afiadas as gélidas e invernais facas que dilacerarão a moribunda primavera da paz.

A 3.ª Guerra Mundial já começou.

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