Opinião: De quando em vez, a competência prevalece

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Joaquim Amândio Santos

Joaquim Amândio Santos

Ontem, quarta-feira, 5 de Outubro de 2016, no dia em que Portugal deveria comemorar os seus 873 anos como Nação independente e não apenas a implantação de um qualquer regime, um português foi, de forma exemplarmente democrática, eleito para o cargo de Secretário Geral da ONU.

Será assim justamente aclamado, pondo fim à longa batalha pelo mais alto cargo da ONU.

Num mundo que caminha num lodaçal perigoso, de que foram exemplo claro algumas movimentações durante esta refrega eleitoral e a entrada tardia de uma candidata de última hora, que, a ser eleita, daria uma machadada final no prestígio da ONU pela ignomínia que ficaria associada a tal, a eleição de António Guterres corre o risco de se assumir como um dos únicos factos políticos positivos que farão a história do planeta neste malfadado ano de 2016.

Chega assim a Secretário Geral após um trabalho fabuloso enquanto responsável máximo do Alto Comissariado para os Refugiados, fazendo da sua capacidade para despertar consciências, erguer consensos e alcançar resultados práticos na angariação de meios e apoios aos mais pobres dos pobres, deserdados da sociedade e do planeta, eternos indigentes e caminhantes pelo meio da guerra, da fome e da morte.

Não resolveu, nem poderia resolver os problemas do mundo, mas foi decisivo para atenuar muita da desgraça que consome largas faixas do planeta!

Se quisermos discutir a valia pessoal, intelectual e profissional de António Guterres, gastaremos pouco tempo.

É consensual que o mesmo ostenta um vasto conhecimento cultural e académico, alicerçado em valores humanistas de referência e ditou sempre a sua presença em cargos públicos pela honestidade e competência, características quase em vias de extinção nos dias que correm entre a chamada elite que nos lidera.

Aliás, esta eleição é o corolário de uma carreira de serviço público que toca as raias do exemplar.

Lembremos que, até na hora em que atirou a toalha ao chão e, perante um mau resultado eleitoral, decidiu demitir-se do cargo de primeiro-ministro, ostentou de forma firme a forte moral pessoal e a não menos sólida ética política que o transforma num caso quase único da política portuguesa.

Como tal, não se estranha (e aplaude-se!) a forma como o Portugal político se uniu em torno desta candidatura, realizando a nossa diplomacia um extraordinário trabalho de bastidores que, paulatinamente, foi dando cabo de todas as barreiras e armadilhas que foram sendo colocadas no caminho.

Mas seria impossível que um processo político eleitoral terminasse sem derrotados.

Felizmente, desta vez, a fava da derrota sai aos que tentaram, uma vez mais, mover os cordelinhos em manobras vis palacianas, impondo a sua vontade ao mundo, não olhando a meios nem a regras.

Todas as baterias estão apontadas para a triste Bulgária e a sua vergonhosa subserviência à “voz alemã do dono” que meteu este país numa salgalhada monumental com duas candidatas pelo meio e uma total falta de vergonha.

A mira da crítica aponta assim para a poderosa chanceler alemã Angela Merkel, claramente derrotada em mais uma tentativa de tornar a Alemanha hegemónica no domínio da Europa e integrante das potências que decidem o destino do mundo.

Lembremos como terminaram as coisas, da última vez que tal ambição germânica veio ao de cima…

Com tudo isto, a grande derrotada de todas as sevícias de bastidores poderá ser a própria União Europeia, sobretudo o seu “governo”, que dá pelo nome de Comissão.

Mandou às malvas a neutralidade que se impunha perante a existência de vários candidatos provenientes de países integrantes e até permitiu que uma sua vice-presidente metesse licença sem vencimento (mantendo o emprego não fosse a coisa correr mal…) para se candidatar à última da hora.

As constantes novelas desta Europa (des)unida cheiram a tempos de fim de império.

Cada vez mais se começa a entender porque os britânicos bateram com a porta.

Foram os primeiros e, a continuar toda esta vergonhosa caminhada, não serão os últimos.

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