Opinião – A Briosa e o regresso

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José Belo

José Belo

Nunca a palavra “regressofez tanto sentido a um clube. Chegados ao ponto em que estamos, com a despromoção a uma Liga que não pode nem deve ser a nossa, só uma palavra está nas nossas mentes: regressar à Primeira Liga.

Mas não queremos o regresso à Primeira Liga – e manter-nos nela – como o fim supremo da nossa existência. Já tentámos isso, não funcionou. E não funcionou porque isto é a Académica e a Académica é muito mais do que um mero clube de futebol. É um símbolo de uma Cidade, um símbolo de uma Universidade, é dona de um património humano de gente que passa e passou por Coimbra e que a leva para os quatro cantos do Mundo.

Quantos clubes de I Liga têm filiais e simpatizantes espalhados pelo Mundo? Quantos clubes de I Liga têm equipas com o seu nome a jogar em campeonatos noutros Países? Quantos clubes da I Liga têm um património humano, cultural e social como tem a Académica? Quantos clubes são de tal forma apaixonantes que conseguem congregar nele, como sócios, ministros, médicos, electricistas, deputados ou calceteiros?

Por isso, é mais do que altura de regressar à Académica que todos conhecemos e da qual tantos se afastaram. Regressar à Académica dos valores, da ética, da formação de homens. Regressar à Académica da capa e batina. Regressar à Académica dos estádios cheios. Regressar a uma Académica em que Coimbra se reveja. Regressar a uma Académica que leve gente consigo quando joga fora. Regressar a uma Académica viva, com novos sócios, com novos simpatizantes e com novas ideias. Regressar a Académica da Universidade e dos seus alunos. Regressar à Académica de jogadores que estão mais do que um ano no plantel. Regressar à Académica capaz de procurar os melhores talentos da Região de Coimbra e dar-lhes carinho, condições e espaço para crescerem, desde a formação até à equipa principal. No fundo, regressar à Académica que sempre foi assim.

Ao longo da última década, também tivémos muitos regressos.

Regressámos aos títulos, ganhando, com mérito, uma Taça de Portugal que nos escapou em 1966 e 1969. Regressámos aos campeonatos da UEFA.

Mas, infelizmente, também houve outros regressos, mas no sentido errado.

Regredimos no número de sócios. Desde 2003, a Académica perdeu quase 3500 sócios e respectivas quotas. E, pior, dificultámos o acesso a novos sócios com uma das quotas mais elevadas de todos os clubes da I Liga. Regredimos no número de assistências médias. Regredimos no valor do passivo, agora superior em 3 milhões de euros do que era há uma década atrás. Regredimos no apoio que a Cidade, a Região e o País sempre deu ao clube. E regredimos porque deixámos que a Académica se tornasse igual aos outros, gerido como os outros. Infelizmente, não deu resultados práticos quase nenhuns.

Sim, estávamos na I Liga. Mas se não fosse a Mancha Negra, com o seu constante e incansável apoio à equipa, estávamos a jogar em casa no estádio mais silencioso do Mundo.

Por tudo isto, é preciso regressar. Mas não se pense que é regressar ao passado.

O Mundo mudou, o futebol mudou, a maneira de gerir um clube mudou, a Cidade mudou, a Académica mudou, nós mudámos. Mas há uma matriz, um código genético, um substrato que não muda. Não pode mudar.

Por isso, o regresso da Académica é o regresso do saudoso pensador Agostinho da Silva. O regresso da Académica é o “progresso no regresso às origens – com plena memória da viagem”.

E é este o regresso que queremos para a nossa Académica.

Um regresso que seja um progresso. E não há melhor regresso do que esse.

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