Opinião – Do túmulo de El-Rei ao Portugal enterrado!

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Joaquim Amândio Santos

Joaquim Amândio Santos

Estreio-me cronista deste diário, ousando desejar vir a merecer tal honroso estatuto, em pleno 1 de Dezembro.

375 anos antes do dia de hoje, era tempo de conjura e de resgate da independência de Portugal.

Saibam que o medo não possuo de poder ser rotulado de nacionalista ferrenho, fanático ou vociferante, nem nunca compreendi aqueles que, do falso alto de uma falsa modernidade filosófica, apregoam ao vento a morte da pátria e dos valores que a essa noção estão associados.

A bem da verdade, deixem-me que assuma desde já que é firme a noção de que em nome das nações e dos povos já se cometeram as mais infamas das barbáries mas o que os homens fazem em nome dos ideais a estes não condena, mas sim à mesquinhez e canalhice de quem os deturpa.

A quem duvide basta ver o que se faz, um pouco por todo o lado, em nome da democracia, dos valores democráticos e de outros conceitos tão consensuais como traídos constantemente na execução!

Vim do Norte para Coimbra faz 3 anos. E apaixonei-me pela cidade.

Do Choupal à Quinta das Lágrimas, da Reitoria ao Penedo da Saudade, do Mondego sereno à baixinha medieval, da íngreme rua “quebra-costas” ao Jardim Botânico, tudo me seduz na cidade universitária de referência mundial.

E é em plena baixa, que reside um dos mais belos e importantes monumentos nacionais: o Mosteiro de Santa Cruz., fundado em 1131, pela ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, com o apoio de D. Afonso Henriques e de D. Sancho I, que nele se encontram sepultados.

A qualidade das intervenções artísticas no mosteiro, sobretudo as realizadas na época manuelina, faz de Santa Cruz, um dos principais monumentos históricos e artísticos do país.

Mas por uma razão bem mais ligada à nossa natureza e ao respeito por quem somos, deveria ser “o” mosteiro mais importante de Portugal.

Na sua capela-mor jazem os dois primeiros monarcas lusitanos. Se um ousou dar o grito de independência, o outro consolidou tal, mantendo e aumentando o jovem reino herdado de seu pai.

Em qualquer dos países europeus ou outros de referência mundial, uma visita a tal lugar seria quase impossível, não por restrições, mas pelo contínuo fluxo de pessoas e, sobretudo, de excursões escolares, para, ou por respeito, ou por misto de curiosidade e interesse, visitar onde jazem aqueles que nos deram a pátria.

Devia ser assim mas assim parece-me não ser!

Entre turistas e nacionais, o fluxo visitante é minguo e excursões escolares não serão norma, antes tímida excepcionalidade.

O que diz muito do que agora somos. Mais do que um não lugar, Portugal começa a assumir a candidatura firme a ser um lugar sem nada e comum conjunto de habitantes que, não sabendo nem querendo saber de onde vêm, não sabem onde estão nem parecem querer saber para onde vão, construindo um caminho sólido e capaz. Num dia histórico sem feriado, feriado temos feito da construção responsável do país.

Um dia destes talvez só nos reste ir até Santa Cruz e dividir a população nacional em duas filas. Uma reverente, pedindo perdão por aquilo que fizemos com o reino que nos foi dado. Suspeito que a outra, não menor, irá, em surdina, insultar os reis, por não sermos espanhóis!

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